Olá, boa noite, tenho a impressão que as empresas por trás das carteiras de criptomoedas, como a Trezor e a Ledger, funcionam como “bancos”, no sentido de que elas armazenam nossas criptomoedas e, portanto, poderiam ter acesso a elas. Nesse sentido, gostaria de saber se é possível acontecer algo nesse sentido.
Outra dúvida que possuo é: o que acontece, ou melhor, aconteceria se grandes quantidades de BTC se acumulassem (como já está acontecendo) nas mão de poucas empresas/pessoas? Quer dizer, isso não lhes daria um certo “controle” do mercado, afinal, a maioria dos BTC estariam em sua mãos? e como isso poderia afetar o futuro do BTC.
1) tenho a impressão que as empresas por trás das carteiras de criptomoedas, como a Trezor e a Ledger, funcionam como “bancos”, no sentido de que elas armazenam nossas criptomoedas e, portanto, poderiam ter acesso a elas. Nesse sentido, gostaria de saber se é possível acontecer algo nesse sentido.
Resposta : Sempre que se pensa em criptomoedas (desde que sejam baseadas no conceito idealizado por Satoshi Nakamoto, criador do Bitcoin) é preciso saber onde elas são criadas e mantidas, esse lugar é chamado de Blockchain. Entre as formas de se explicar o que é um Blockchain (corrente de blocos) a mais clássica é comparar com o livro razão (que falando em termos contábeis é um livro onde se registram as transações financeiras em contas e seus respectivos saldos). Simplificando, dentro de um Blockchain existem contas (dos usuários) e seus respectivos saldos (de criptomoedas). Uma das críticas que se faz ao conceito original das criptomoedas idealizado por Satoshi Nakamoto, simplificando bastante, é que o Blockchain é um fim em si mesmo, ou seja, é um sistema fechado que não interage com outros Blockchains. Portanto o Blockchain do Bitcoin não interage com o Blockchain do Ethereum (ou de qualquer outra criptomoeda). Quando alguém compra bitcoins pela primeira vez precisa criar uma conta dentro do sistema, que no caso é o Blockchain. Uma das formas de se criar uma conta é através das carteiras digitais (aplicativos). No entanto, diferente do processo que ocorre no caso dos bancos tradicionais e das movimentações de dinheiro, onde as transações que realizamos, por exemplo via pix, movimentam saldos que estão sendo controlados (em poder) pelos bancos entre contas de clientes do mesmo banco ou para clientes de outros bancos, no caso das criptomoedas não ocorre essa posse das criptomoedas por parte dos aplicativos chamados de carteira de criptomoedas independente do tipo (hot, cold, impressa). Elas nada mais são do que uma espécie de “ponte” entre o usuário e o Blockchain, dando acesso a conta criada pelo usuário que está cadastrada no aplicativo. Ou seja, nem os criadores dos aplicativos e tampouco as carteiras de criptomoedas tem qualquer possibilidade de movimentar os saldos das contas, a não ser que o usuário ou a carteira sejam hackeadas e/ou as chaves/senhas sejam comprometidas pelo simples fato das criptomoedas (desde que tenham sido criadas como criptomoedas) nunca transitarem para fora do Blockchain, em outras palavras, as criptomoedas são movimentadas de uma conta para outra dentro do Blockchain a partir de comandos recebidos e processados fora do Blockchain para depois serem inseridas dentro do Blockchain gerando os respectivos débitos e créditos nas contas movimentadas pelos diversos usuários.
Todas essas transferências/movimentações de saldos ordenadas pelos usuários só consegue ser registrada de forma definitiva após passar por um processo de decodificação criptográfica dos dados dessas movimentações e por validação. Esse processo, como regra geral do Blockchain, não é conduzido ou controlado por decisões tomadas por pessoas escolhendo qual, quando e como vai contabilizar. Tudo transcorre via execução de vários algoritmos que não podem ser alterados. As transações/transferências, após serem registradas no Blockchain, também não podem ser alteradas e nem estornadas por vontade de alguém, mesmo que tenha ocorrido algum erro. Se alguém tentar apagar alguma transferência que está registrada no Blockchain que já está lá registrado (ontem ou ano passado, tanto faz) a forma pelo qual o sistema está programado vai acionar alertas dessa alteração.
Resumindo, as carteiras não armazenam criptomoedas porque as criptomoedas, as respectivas contas dos usuários e seus saldos não estão dentro da carteira digital, elas sempre estarão dentro do Blockchain e as carteiras apenas acessam o Blockchain para “olhar” o saldo da conta ou para enviar as transações. Um dos pilares que deu origem a criação do Bitcoin (primeira criptomoeda criada) é justamente eliminar a figura do intermediário de confiança (exemplos: bancos e cartórios), portanto não faria sentido criar um sistema para eliminar os bancos e ao mesmo tempo fazer surgir um substituto que poderia agir como se fosse um banco. O processo todo envolvendo criptomoedas é muito mais complexo e envolve muitos aspectos, esta resposta é bem simplificada.
Mesmo as carteiras frias, quando vão movimentar criptomoedas, precisam se conectar de algum jeito com o Blockchain, para registrar a transação no Blockchain:
2) o que acontece, ou melhor, aconteceria se grandes quantidades de BTC se acumulassem (como já está acontecendo) nas mãos de poucas empresas/pessoas? Quer dizer, isso não lhes daria um certo “controle” do mercado, afinal, a maioria dos BTC estariam em suas mãos? e como isso poderia afetar o futuro do BTC.
Resposta: Vamos considerar que por “controle” do mercado vamos falar sobre a possibilidade de “manipular” o preço do Bitcoin (para cima ou para baixo) dentro de um cenário baseado num dos conceitos básicos da economia (oferta x demanda). Apesar de ter sido idealizado por seus criadores para ser um dinheiro digital para ser usado no dia a dia para pagamento de despesas em geral, com o passar do tempo e por causa de alguns pontos que precisam de melhoria, o Bitcoin acabou se tornando uma alternativa de investimento classificado como ativo de renda variável (ações, metais preciosos, moedas, derivaticos etc.). Os mercados financeiros, em geral, especialmente os que lidam com renda variável, já estão maduros e lidam com tentativas de “controle” ou de “manipulação” de preços o tempo todo. Sempre tem alguém querendo se aproveitar do vacilo alheio. As formas de manipulação são conhecidas e recicladas de tempos em tempos, sendo adaptadas para o tipo de ativo a ser manipulado. Um influencer que posta um vídeo com o título mais ou menos parecido com “enchi o carrinho com ações X ou Y” talvez esteja interessado em dar uma puxada no preço aumentando a procura para vender ações X ou Y que ele mesmo tem em carteira. Em 2021 eu publiquei uma postagem sobre um método para manipulação de preços (link abaixo).
Do total de 21 milhões de Bitcoins a serem emitidos cerca de 19.7 milhões já foram emitidos (quase 94%). A empresa de capital aberto que detém a maior quantidade de Bitcoins é a americana Microstrategy que controla/tem pouco mais de 252 mil bitcoins (1,28%). A empresa que vem em segundo lugar é a Marathon Digital que tem quase 27 mil bitcoins. Entre os fundos, o maior deles é o Ishares que detém quase 430 mil bitcoins (2,2%), a Grayscale detém 220,5 mil bitcoins (1,12%) e a Fidelity detém 188.4 mil bitcoins (0,96%). Outros detentores de bitcoins como governos, empresas privadas e empresas de finanças descentralizadas (DeFi) isoladamente não controlam nem 1% dos bitcoins. Em tese os fundos que investem em criptomoedas não devem negociar estas criptomoedas com intuito de manipular o mercado porque no fundo elas não lhes pertencem, são dos investidores/cotistas. Como o mercado é bastante volátil, o administrador não deve correr o risco de dar uma ajudinha no preço vendendo ou comprando porque pode acabar tendo prejuízo porque os preços podem oscilar.
Outro ponto a se considerar é que os percentuais acima consideram o total de Bitcoins teoricamente em circulação, ou seja, que já foram emitidos que é de quase 20 milhões de Bitcoins. No entanto, estima-se que desse total que já foi emitido, cerca de 40% está definitivamente perdido. A grande maioria desse percentual está perdida definitivamente, uma parte está dormindo e de vez em quando acorda depois de ficar anos congelado e se movimenta.
Pensando em termos de manipulação de mercado pela via da oferta e demanda vale a pena lembrar que o Bitcoin é negociado 24 horas por dia, 7 dias da semana e 365 dias por ano em todas as partes do mundo, desde que foi criado e o mercado nunca parou desde então. A resiliência é uma marca do Bitcoin, seja diante de tentativas de controle do sistema, de ataques hacker ou de manipulação de preços. O sistema em sí está intacto, os ataques feitos até agora atingiram agentes externos como corretoras (Exchanges), aplicativos ligados ao Bitcoin e usuários.
Não dá para descartar uma possível manipulação de mercado no futuro, assim como não dá para descartar um eventual ataque hacker devastador, ou algum avanço em termos criptográficos, capaz de acabar com o Bitcoin. Muitas coisas podem afetar o Bitcoin no futuro e não dá para fazer previsões, assim como não dava para saber que um bitcoin valia 0,01 centavo de dólar quando foi criado, hoje vale uns 74 mil dólares e alguns chutam que vai valer mais de 1 milhão no futuro. Ninguém tem uma resposta clara e objetiva sobre o futuro do bitcoin. Um Bitcoin pode valer 1 milhão no futuro ou acabar virando pó.