Dez Fatos Surpreendentes (ou nem tanto) sobre o Bitcoin

Um extenso e detalhado relatório divulgado pelo BAML (Bank of America Merrill Lynch) com sede em Nova Iorque causou algum alvoroço nos últimos dias. O relatório foi batizado com o provocativo título no original de “Bitcoin’s dirty little secrets” que podemos traduzir livremente como “Pequenas sujeiras secretas do Bitcoin”. O relatório é extenso, mas parte desse tamanho é por causa da inclusão de dezenas de gráficos. Digamos que esse tipo de relatório nascendo num banco do tamanho do BAML já indica que o bitcoin entrou definitivamente no radar do sistema financeiro global. Goste-se ou não dele, ele está aí para ser elogiado e invejado ou para ser criticado (sim, ele tem seus problemas).

Para os 3 ou 4 apressados que consomem conteúdo do tipo fast food deixo aqui embaixo uma modesta versão adaptada (não é mera tradução ainda que tabajara, para não ferir direitos autorais) de um texto publicado originalmente em inglês cujo link (A) também está lá no fim da postagem. Os parênteses incluídos no título são por minha conta. Se estiver interessado você já deve encontrar sites em português falando deste relatório que foi publicado no dia 17 de abril.

Como meu inglês não é lá essas coisas ainda vou demorar algum tempo para traduzir o relatório na íntegra para meu consumo pessoal. Deixo no final da postagem o link para o relatório (B) para os que ao contrário deste tonto (eu) dominam a língua inglesa e estão interessados no conteúdo integral e original do relatório.

Dez Fatos Surpreendentes sobre o Bitcoin

1 – Concentração de controladores : apenas 2,4% das contas (carteiras) detêm aproximadamente 95% do total de bitcoins e estão especialmente concentradas em carteiras com saldos mais robustos. Numa comparação com o controle de riqueza em outros tipos de ativos a proporção é de 1% controlando cerca de 30,4% da riqueza nos Estados Unidos.

2 – Volatilidade do preço : o bitcoin vem sendo negociado desde a sua criação em 2009, no início de forma tímida entre os próprios criadores e entre alguns poucos entusiastas. Com o passar do tempo as negociações foram crescendo e atualmente atingiu seus maiores níveis de preços e de negociação. Todavia mesmo após mais de 10 anos de negociação ininterrupta seu preço continua sendo altamente volátil superando a volatilidade de outros mercados como de câmbio, metais e minerais.

3 – Predomínio do dólar : mais ou menos 80% de todas as negociações de bitcoins são feitas em dólares. Outras moedas como Euro (19%), Won (Corea = 0,43%) e Iene (Japão = 0,01%).

4 – Correlação com outros ativos : o bitcoin se correlaciona melhor com outros ativos considerados de maior risco como ações e comodities. Com relação a ativos considerados de menor risco ou “mais seguros” como dólar e títulos do tesouro americano a correlação é neutra ou ligeiramente negativa. Por outro lado, o preço do bitcoin está intimamente relacionado à quantidade de pesquisas dos internautas no Google.

5 – Maiores “Hodlers”: esclarecendo que hodler nasceu de um erro de escrita, era para ter sido escrito holder e daí nasceu uma nova palavra que define aqueles que compram criptomoedas para mantê-los em carteira por longo prazo. O trader pode ser considerado o oposto do hodler. A Grayscale (GBTC – Grayscale Bitcoin Trust basicamente é um tipo de fundo de investimentos que compra bitcoins) é considerado o maior detentor conhecido de bitcoins. Nesta data, 19/04/2021 o fundo GBTC tem cerca de 40 bilhões de dólares sob gestão e valorizou mais de 41.600% (isso mesmo quase 42 mil por cento) desde que foi criado em setembro de 2015 até 16/04/2021. Confira direto no site esses números: https://grayscale.com/products/grayscale-bitcoin-trust/

6 – Volume constante de negociação : A quantidade média de transações diárias de bitcoins nos últimos 4 anos foi em torno de 287 mil operações. A quantidade se manteve estável mesmo com os recentes aumentos que ocorreram no preço. Essa estabilidade que significa maior liquidez no mercado pode ter sido um fator importante para a manutenção desta estabilidade no volume de negociação de bitcoins. Vale lembrar que nos últimos meses quantidades expressivas de bitcoins mantidos em carteiras “congeladas” há muito tempo estão se movimentando, talvez aproveitando a alta no preço e essas injeções de bitcoins “congelados’ ajudam na liquidez que não fica dependendo apenas dos bitcoins gerados a cada dez minutos que são pagas ao minerador responsável pelo último bloco.

7 – Baixa pontuação ESG : em português a sigla ESG (Environmental and Social Governance) é ASG (Governança Social e Ambiental). Este é considerado um dos pontos mais sensíveis e mais criticados do ecossistema do bitcoin, entre outras coisas devido ao alto consumo de energia gasto na mineração e sua correlação direta com o preço. O consumo elevado de energia gera muita emissão de CO2 devido a presença de metade dos mineradores na região chinesa de Xinjiang que usa energia gerada por carvão. Em resumo, sob o aspecto ambiental o bitcoin é considerado um desastre. Veja esta notícia recente envolvendo carvão e bitcoin: Taxa de hash do Bitcoin cai após acidente em mina de carvão na China | Livecoins

8 – Bitcoin é um ativo exclusivo : não existe outro tipo de ativo financeiro (com exceção de outras criptomoedas) igual ao bitcoin. Sua valorização ao longo do tempo, seu ecossistema e sua concentração tornam o bitcoin único sob o ponto de vista de um ativo financeiro. A concentração brutal nas mãos de poucos detentores representa um risco elevado que o torna vulnerável a oscilações bruscas de preços. Qualquer decisão de venda ou compra em grande quantidade de algum detentor de uma destas contas conhecidas como “baleias” pode causar enorme volatilidade no preço sem qualquer correlação com eventos econômicos como ocorre com a maioria dos outros ativos financeiros.

9 – DeFi – Finanças Descentralizadas : a descentralização financeira é o desafio mais importante das finanças modernas. O ponto central da descentralização financeira é a substituição das atuais entidades centrais de confiança prestando serviços ou funções (cartórios, banqueiros etc.) por sistemas baseados em algoritmos prestando os mesmos serviços ou desempenhando funções com igual nível de segurança ou até em nível superior, baseados em plataformas de Blockchains descentralizados.

10 – O grande risco do Bitcoin são os CBDCs : CBDC são as Central Bank Digital Currency ou moedas sob controle e gestão dos bancos centrais, ou digitalização das moedas fiat. Sob diversos pontos de vista CBDCs são muito diferentes do bitcoin tanto conceitualmente como operacionalmente, mas representam o maior risco que surgiu até o momento para o bitcoin. A criação deste tipo de dinheiro fiat digital pelos bancos centrais tem como motivação a defesa das estruturais atuais do sistema financeiro, totalmente centralizadas e controladas. Em outras palavras é uma iniciativa que nasce justamente daquele ecossistema que o bitcoin se dispôs literalmente a destruir.

A – Texto original com os 10 fatos extraídos do relatório do BAML:

B – Relatório original do BAML distribuído para seus clientes (obs: como o relatório é extenso demora um pouco para carregar, basta esperar um pouco):
https://rsch.baml.com/access?q=JLQz8CGIkJs

1 curtida

Rapaz, o leigo sofre para entender por completo o mundo cripto, muitos detalhes parecem se tratar da mesma coisa porém não são.

Favor me corrija se eu estiver errado, então no fundo as moedas digitais fiat de quase nada tem a ver com as moedas cripto certo? Essas moedas do governo, além de centralizadas, também não se utilizam da mineração, ou seja, não funcionam a base de blockchain.

Então fica a minha dúvida: no que as CBDCs tem de diferente do que já praticamos atualmente, já que as moedas fiduciárias oficiais, em sua maior parte praticamente só existem em meio digital?

Vamos por partes…

No fundo as moedas digitais fiat de quase nada tem a ver com as moedas cripto certo?

Na realidade, além de não ter nada a ver, as criptomoedas têm como principal fundamento o fato de serem criadas e lançadas por pessoas ou empresas privadas enquanto as moedas chamadas de fiat incluindo as CBDC são emitidas e controladas por governos. As moedas emitidas e controladas pelos governos têm o que se chama de “curso forçado”, ou seja, além de obrigar o uso do dinheiro oficial a lei proíbe o uso de outras moedas. Art. 1. Do Decreto 867/69: “São nulos de pleno direito os contratos, títulos e quaisquer documentos, bem como as obrigações que exequíveis no Brasil, estipulem pagamento em ouro, em moeda estrangeira, ou, por alguma forma, restrinjam ou recusem, nos seus efeitos o curso legal do cruzeiro”. Por outro lado o uso e aceitação das criptomoedas depende única e exclusivamente do interesse e da vontade de cada um, ninguém obriga ninguém a aceita-las. O que os governos tentam fazer é encontrar alguma forma de controlar seu uso ou circulação através de leis, normas e regulamentos, como acontece com a Receita Federal que exige a declaração da quantidade de bitcoins e outras criptomoedas em posse do declarante.

A propósito a palavra fiat vem do latim confiança. E para tornarem-se mais confiáveis algumas criptomoedas são criadas com “lastro” em metais preciosos (ouro), comodities (petróleo), minerais (urânio), dinheiro fiat (dólar, euro etc.). Alguns lastros são diversificados juntando várias moedas, vários metais preciosos etc. Já postei por aqui uma criptomoeda com lastro na fé, dando direito a um lugar no céu e não é brincadeira.

Essas moedas do governo, além de centralizadas, também não se utilizam da mineração, ou seja, não funcionam a base de blockchain .

Exatamente. O Bitcoin enquanto sistema trouxe várias inovações, mas duas delas são reveladoras da genialidade do(s) criador(es). Um é a impossibilidade de copiar (praticamente tudo que é digital pode ser copiado: textos, fotos, imagens, planilhas, softwares etc.) mas mesmo sendo digital, bitcoin não pode ser copiado. A outra inovação é a eliminação do intermediário garantidor do ecossistema. No caso da moeda fiat é o governo que garante seu valor. No caso de uma assinatura num contrato é o cartório reconhecendo a firma. No caso da transferência de dinheiro de uma conta para outra é o banco que garante. Esses intermediários como banco central e bancos privados foram eliminados através da criação de um sistema baseado numa rede ponto a ponto (P2P) sem necessidade de um servidor central como é o caso do Facebook que saiu do ar e deixou muita gente na mão. No caso do Bitcoin ele só sai do ar se todos os computadores rodando o programa do bitcoin core saiam do ar (possivelmente toda a internet estará fora do ar). Se existir pelo menos um PC rodando o programa ele estará vivo. Esse é outro motivo pelo qual o Bitcoin roda 24/7, ou seja, não dorme nem descansa um minuto sequer desde que foi criado. Como são milhares de máquinas rodando a saída de uma centena delas implica em alguns reajustes já previstos pelo sistema como diminuir a dificuldade da mineração para que tudo continue funcionando.

A resistência do establishment diante desta inovação é tão grande que durante muito tempo eles chamavam Blockchain de DLT Distributed Ledger Technology, veja abaixo um estudo feito por técnicos do Banco Central Brasileiro sobre esse assunto em 2017:

Não sei muita coisa técnica sobre o CBDC brasileiro (nem de outros países…) mas até onde eu sei não vai ser baseado num Blockchain. O sistema financeiro brasileiro tem uma estrutura enorme e que já é interligada tendo o BC como controlador do sistema e acho que vai ser em cima desse conceito. Não é impossível ou proibido porque pode ser criado um Blockchain privado ou fechado com acesso controlado.

Postei alguma coisa a respeito:

CBDC - A Digitalização do Real - Notícias - TriboCrypto

Outro motivo para digitalizar, além de facilitar o controle (fica fácil bloquear todo o seu dinheiro se ele é totalmente digital) é economizar na emissão de dinheiro que não é pouco:

90 Bi Para Fabricar Reais? Esclarecendo Números que Confundem - Notícias - TriboCrypto

Não é fácil nem barato cuidar de dinheiro físico. Mais de 1 bi por ano é destinado para gestão do meio circulante pelo Banco Central:


Imagem retirada de: https://www.bcb.gov.br/content/cedulasemoedas/encargosmecir/Boletim%20OAM%20abril-junho.pdf

Perfeito!

Se parar pra pensar, essa questão é uma tremenda pegadinha.

Primeiro porque nos dias de hoje, muito se fala sobre Bitcoin, Criptomoeda e Moeda Digital, daí aproveitando essa onda, aparece o governo citando que lançará sua própria moeda digital para se opor à Bitcoin. Ou seja, seguindo a lógica das palavras, não é difícil para um leigo associar a CBDC à uma criptomoeda kkk

A pegadinha número dois é que, embora não seja o caso do Real Digital, na Venezuela existe a Petro, e esta denominavam como uma possivel cripto oficial do país, uma steable lastreada em barril de petróleo. Logo, também por associação ao caso da Venezuela, não seria dificil confundir que tb estariam fazendo algo parecido por aqui.

1 curtida