CPI das Criptomoedas

É comum que no início de cada governo sejam feitos vários pedidos de CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito. Neste início de governo já foram autorizadas algumas CPIs. A mais conhecida e que promete fazer mais barulho será a CPI que investigará os atos do dia 08/01/2023 em Brasília. Outra que promete algum barulho é a CPI que pretende investigar as invasões de terra realizadas pelo MST – Movimento dos Sem Terra. No caso da investigação de invasão de terras não será a primeira CPI que se debruça sobre este tema. A CPI batizada de “8 de janeiro” é do tipo mista, sendo correto chamá-la de CPMI – Comissão Parlamentar Mista de Inquérito e será formada por Senadores e Deputados Federais. A terceira CPI que foi autorizada é a que pretende investigar o caso das Lojas Americanas.
Na sessão do dia 17/05/2023 que foi realizada na Câmara dos Deputados em Brasília foi lido o requerimento para instalação de mais uma CPI que tem como objetivo investigar supostas fraudes envolvendo criptoativos, em sua maioria conhecidos como “esquemas de pirâmide financeira”. O autor do requerimento é o deputado Áureo, do Rio de Janeiro, o mesmo que lutou e conseguiu aprovar a Lei 14.478 ou Lei dos Ativos Virtuais, que entrará em vigor daqui a um mês, em 20/06/2023. Na sequência de outras CPIs muito mais barulhentas a CPI que pretende investigar as pirâmides financeiras com uso de criptomoedas não teve a mesma repercussão das outras.
Como é de praxe podemos notar que os meios de comunicação, em sua maioria, já trataram de batizar a CPI que pretende investigar fraudes realizadas com uso de criptomoedas de forma pejorativa como “CPI das criptomoedas”. Uma busca no Google já sinaliza o tamanho do erro. CPI das criptomoedas indica uma coisa diferente de CPI para investigar esquemas de pirâmides como é o caso concreto. A menção correta ao verdadeiro objetivo da CPI saiu num informe da própria Câmara dos Deputados, conforme podemos constatar no print abaixo:

CPI cripto2
Imagem retirada em 18/05/2023 de consulta feita no Google sobre o tema “CPI das criptomoedas”: https://www.google.com.br/

Em breve resumo uma CPI começa a partir de um requerimento assinado por no mínimo 1/3 dos integrantes da Câmara Federal (mínimo de 171 dos 513 deputados), do Senado (mínimo de 27 dos 81 senadores) ou de ambas as casas. A leitura do requerimento é um passo obrigatório para a instalação de uma CPI. O próximo passo será a formação da comissão que será integrada por 32 deputados titulares e seus respectivos suplentes (CPI da Câmara). Os membros são indicados pelos líderes de cada partido. Com a indicação dos respectivos titulares e suplentes a CPI poderá ser instalada, ou seja, poderá iniciar os trabalhos de investigação realizando sessões, convocando envolvidos para depor, quebrar sigilos bancários, fazer diligências etc. Na primeira sessão os membros elegem um presidente e um relator. Após sua instalação a CPI tem um prazo de 120 dias prorrogáveis por mais 60 dias para realizar seus trabalhos de investigação. No final do prazo cabe ao relator apresentar o relatório final que será encaminhado ao Ministério Público ou para a Advocacia Geral da União para providências. É permitido aos demais membros elaborar relatórios paralelos para apreciação e votação dos demais membros.

Basicamente o que pode e o que não pode acontecer numa CPI:


Imagem retirada em 18/05/2023 de: O que é e como funciona uma comissão parlamentar de inquérito - Notícias - Portal da Câmara dos Deputados

Algumas CPIs já nascem mortas, outras se agigantam e ganham o mundo, são coisas da política. Por enquanto foi dado o primeiro passo importante que foi a leitura do requerimento no plenário. Tratando-se de questão política muitas “manobras” podem atrasar e até minar o funcionamento de uma CPI. Certamente o deputado Áureo vai lutar para concretizar esta CPI com o objetivo de investigar os esquemas de pirâmides que tanto prejuízo tem causado para algumas pessoas desavisadas. Pirâmides e fraudes financeiras não são privilégios do Brasil, existem em todos os cantos do mundo. A melhor arma para enfrentar ou evitar cair em algum tipo de cilada é a educação e a disseminação do conhecimento numa linguagem clara e menos rebuscada. É uma das coisas que tentamos fazer por aqui.

Tentaremos acompanhar a evolução desta CPI que está diretamente ligado ao mundo dos criptoativos.

Para saber mais:

Segue a lista de empresas e pessoas que devem ser investigadas pela CPI por suposto envolvimento em esquemas de pirâmides com criptomoedas:

Empresas:

Zero10 Club (também conhecida com Genbit)
Atlas Serviços em Ativos Digitais
Atlas Proj Tecnologia
Atlas Services (na notícia consta como Altas e supomos que seja Atlas)
Atlas Project International
Atlas Project LLC
Trader Group Administração de Ativos Virtuais
TG Agenciamentos Virtuais

Pessoas Físicas:

Gabriel Tomaz Barbosa (Zero10 / Genbit)
Wesley Binz Oliveira (Trader Group / TG)
Rodrigo Marques dos Santos (Atlas)

Quem CPI vai invest 24 05 23
Imagem retirada em 24 05 2023 de: CPI das pirâmides: Saiba o que esperar da CPI que vai investigar empresas de criptomoedas | Exame

Token:

Brazil National Football Team Fan Token (BFT)


Imagem retirada em 24 05 23 de: Fan token suspeito da CBF está na mira da CPI das pirâmides de criptomoedas

Com o passar do tempo a lista deve ou deveria aumentar.

E a CPI das criptomoedas retomou suas atividades após o recesso parlamentar. O famoso Faraó dos Bitcoins foi ouvido e entre outras coisas disse o que segue abaixo, conforme foi publicado no site da CNN que pode ser conferido na íntegra no link para reportagem completa, logo abaixo:


Imagem parcial retirada em 03 08 23 do site: Em CPI, “Faraó dos Bitcoins“ diz que é possível pagar clientes se PF desbloquear recursos

Aliás, faço uma consideração a respeito de “promessa”. Tenho o máximo respeito e admiração pelas pessoas que fazem promessas e cumprem, principalmente aquelas de natureza ou de convicção religiosa, possivelmente as mais cumpridas. Fora desse universo da fé, as outras tais como fazer exercício, perder uns quilinhos, ler 1 livro por mês, estudar inglês etc. estamos descumprindo a todo momento, claro que existem exceções, mas no geral promessa não é garantia de nada.
Destacamos este ponto da fala do porque é um detalhe aonde muitas pessoas que ainda não entenderam direito como funciona o processo acabam sendo enganadas. Um portal bonito, geralmente muito parecido com o portal de uma instituição financeira, com tela bem montada, cantinho do login e senha para acessar a área de clientes, percentuais de taxas de juros de 2 dígitos AO MÊS que fazem os olhos brilharem etc., são feitos justamente para atrair as pessoas e infelizmente muitos acabam entrando nessa.
Todos as pessoas que entregaram dinheiro para a empresa do Faraó estavam, nas palavras do próprio Faraó, terceirizando a atividade de “trader” de criptomoedas. A atividade de trader é uma das mais “romantizadas” do mercado financeiro. O outro lado dessa atividade é o risco altíssimo de perda/prejuízo. O trader, a grosso modo pode ser traduzido como “comerciante”. Comércio é uma atividade de intermediação, ou seja, compra e venda de algo, no caso específico de compra e venda de criptomoedas. Tenho certeza, cá com meus botões, que todos os incautos que perderam dinheiro nesse tipo de empreitada sequer sabiam o que estavam fazendo e o que é ou era um trader. Não tinham entendido que estavam entregando seu dinheiro para outra pessoa fazer comércio, comprando e vendendo criptomoedas em operações de curtíssimo prazo, muitas vezes de poucos minutos entre a compra e a venda. Certamente este tipo de esclarecimento claro e objetivo até poderia estar inserido em algum lugar do site e/ou do contrato de adesão para se tornar cliente. Mas o que atrai mesmo a pessoa que ouve falar, vê relatos nas redes sociais ou esbarra no site deste tipo de empresa é a taxa de 2 dígitos ao mês de rendimento.
Enquanto existirem pessoas achando que dá para obter rendimentos de 2 dígitos ao mês entregando seu dinheiro para pessoas e empresas que sequer conhece direito continuaremos vendo este tipo de situação se repetindo. Experimente deixar uma nota de 10 reais parado numa gaveta por algum tempo. Depois de 1 mês, 1 ano ou 5 anos esta nota continuará com seu valor de face exatamente igual e com grande chance do seu valor real ser menor do que valia anteriormente, quando foi deixado na gaveta. Para que estes 10 reais rendam e se valorizem é preciso fazer algo. Fazer trader seria pegar esses 10 reais e trocar pelo montante equivalente em dólares ou euros, por exemplo: as 09:10 do dia 03/08/23 o dólar valia 4.843 e as 10:42 do dia 03/08/23 o dólar valia 4.884, ou seja, o valor subiu. O trader que comprou as 09:10 e vendeu as 10:42 lucrou, sendo simplista e deixando de lado questões como limites operacionais, taxas, comissões do trader e riscos envolvidos. Pena que o mundo econômico e das finanças não é exatamente linear, sempre pra cima e para o alto. Os investimentos em criptomoedas, em moedas, em ações e em produtos vinculados a índices que oscilam fazem parte do segmento de renda variável, que por óbvio, varia para cima e para baixo. As oscilações também não são lineares ou óbvias. Os mercados de renda fixa são voláteis, num momento podem estar “parados” ou quietos e de repente podem “explodir”. Tipo deixar uma bacia com gasolina ou álcool parada e depois jogar um fósforo aceso. O resultado pode ser incontrolável e o prejuízo vai ser líquido e certo se você apostou o contrário.
No mundo real os “traders profissionais” realizam transações (compra e venda) aos montes e em pouquíssimo tempo, com ajuda de máquinas potentes, na casa dos segundos. E como se nota, para ganhar algum é preciso operar com grandes volumes de recursos. E se estes recursos forem os seus suados recursos o risco é altíssimo e o retorno de 2 dígitos tem grande chance de ser apenas uma falsa expectativa que não se realiza. Pelo contrário, o resultado será de vários dígitos de frustração, raiva, impotência, derrota, tristeza, fracasso, vergonha, etc.


Imagem parcial retirada em 03 08 23 do site: Dólar Comercial: Cotação de Hoje, Gráficos e tabelas - UOL Economia