Uma visão Talebiana sobre o bitcoin

Olá Criptomaníacos!

Nas minhas pesquisas sobre bitcoin encontrei um texto em inglês publicado por Nassim Nicholas Taleb no site Medium. Na realidade o texto é um prefácio escrito por Taleb para o livro “The Bitcoin Standard – The Decentralized Alternative to Central Banking” escrito por Saifedeam Ammous (Doutor em Economia e Professor Assistente da Lebanese American University). O livro (em inglês) foi lançado em abril deste ano (2018), portanto é bem recente.
https://www.amazon.com/dp/1119473861/ref=rdr_ext_tmb
O primeiro livro do Taleb que eu li foi A Lógica do Cisne Negro, que não é o primeiro livro escrito por Taleb, talvez seja o mais conhecido, junto com outro livro que tem o título de Antifrágil (este ainda não lí mas já comprei, está na fila de leituras). O último livro dele chama-se Skin in the Game (este está na lista de compras). Mas vamos ao que interessa. Não vou falar do livro escrito pelo Saifedeam propriamente, mas sim do prefácio escrito por Taleb, que ele mesmo publicou no site Medium, portanto não é spoiler, eu acho.


O título do prefácio é “It may fail but we now know how to do it” que significa mais ou menos o seguinte: “Pode falhar, mas nós já sabemos como fazer isso”. Ele começa o prefácio dizendo que estamos vendo um motim contra os especialistas, mas que na realidade não são especialistas coisa nenhuma e pior ainda, não sabem disso (que não são especialistas). Citando dois ex-presidentes do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) Greenspan e Bernanke que segundo ele tinham pouco conhecimento da realidade empírica (que eu ouso definir como experiência prática do mundo real) e conclui que isso foi descoberto tarde demais. Uma menção a má condução (centralizada) dos destinos do sistema financeiro na época que culminou com a grande crise sistêmica de 2008. Citando Friedrich Hayek (economista e filósofo de origem austríaca da escola liberal de pensamento econômico) Taleb diz que nas questões complexas o conhecimento não se concentra (nos especialistas) e as coisas funcionam melhor de maneira distribuída concluindo que o essencial para que tudo funcione bem é ter uma boa estrutura. Prosseguindo no seu texto Taleb diz que mercados racionais (bem estruturados/organizados) não dependem de participantes racionais e funcionam melhor do que mercados controlados de forma centralizada por alguém extremamente inteligente. Esse raciocínio remete ao bitcoin, que Taleb define como uma excelente idéia. É um sistema complexo (e como), não tem dono (ou melhor, tem dono, são todos os seus usuários) e nenhuma autoridade central decidindo seu destino. Numa outra definição dada por Taleb, é um animal com vida própria que carrega todo o seu histórico de transações (de forma pública). E ainda sobra espaço para dar um pitaco sobre outras criptomoedas: para ter a mesma competitividade precisam ter as mesmas propriedades Hayekianas (se é que existe esta palavra) do bitcoin. Sobre o fato de não haver governança centralizada sobre o bitcoin Taleb faz uma interessante comparação com o ouro, que também não estaria submetido a nenhum tipo de controle centralizado (de um governo específico). Apesar do ouro não ser objeto de controle específico de um determinado governo está sujeito a nuances tais como necessidade de mantê-lo em custódia (por exemplo nos bancos, que atestam a sua existência física), que por sua vez são controlados pelos governos. No fundo banqueiros e governantes são muito próximos. A grande vantagem das transações feitas com bitcoin sobre o ouro é que ele não precisa de um agente de custódia, ou seja, elimina o agente de confiança (governos, bancos, bolsas de valores, cartórios, etc.) nos negócios entre duas partes. Segundo Taleb o bitcoin ainda passará por algumas dificuldades, pode até acabar, mas poderá facilmente ser reinventado, porque agora nós já sabemos como fazê-lo. No estágio atual o bitcoin ainda não atingiu a maturidade suficiente para servir como meio de pagamentos no dia a dia, como por exemplo para comprar um expresso descafeinado. Pode ser muito volátil para ser usado como meio de pagamento, mas é a primeira moeda orgânica (eu tomo a liberdade de definir organic currency ou moeda orgânica como contraponto a moeda oficial, ou seja, que nasce sem controle estatal, de forma descentralizada, com propósito, estrutura, funcionamento, crescimento, pessoas envolvidas e motivação independentes e desvinculadas de governos). Mas além do título expressivo que eu cito novamente: “Pode falhar, mas nós já sabemos como fazer isso” a conclusão final do prefácio é muito marcante, tomo a liberdade de transcrever esta parte no original em inglês (no original é sempre melhor):
“But its mere existence is an insurance policy that will remind governments that the last object establishment could control, namely, the currency, is no longer their monopoly. This gives us, the crowd, an insurance policy against an Orwellian future”.
Que mais ou menos quer dizer o seguinte: Mas sua mera existência (do bitcoin) é uma garantia de que uma das últimas formas que os governantes têm para estabelecer controle (sobre nós), que é a moeda (centralização do sistema financeiro) já não é mais absoluto. Isso nos dá (para a população em geral) um seguro contra um futuro Orwelliano. (George Orwell é autor de livros como 1984 e a Revolução dos Bichos e a expressão orwelliano é sinônimo de controle/ totalitarismo).

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Fantástica contribuição, @Cecilio!

Em um dos vídeos acho que disse algo similar: O bitcoin não pode ser “desinventado”.

É preciso entender que por maior esforço que façam para barrar o Bitcoin, as pessoas agora já tem o conhecimento para recriá-lo, e enquanto existirem pessoas ao redor do mundo interessadas em manter uma rede de confiança para troca de valor, criptomoedas continuarão existindo.

Tentativas de barrar o Bitcoin é como tentar barrar que pessoas usem o Teorema de Pitágoras. Já foi descoberto/inventado e a fórmula é pública. Não tem mais volta.

Por mais que consigam quebrar a curva elíptica usada no Bitcoin (secp256k1), por mais que computadores quânticos fiquem populares, ou que quebrem o SHA256, sempre haverá uma forma de contornar e reconstruir a rede.

Obrigado pela sugestão. Vou colocar este livro na lista para ler.

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Esse livro do Saifedeam vou esperar para ver se sai uma edição em português…hehehe. É muito livro para pouco zoio, só temos dois né. Estou pensando em algo mais leve como uma “comic” que eu ví em outro site hoje, que já tem no Brasil, esse dá para ler rapidinho.

https://www.sesispeditora.com.br/catalogo/sesi-sp-quadrinhos/bitcoin-caca-satoshi-nakamoto/

Valeu e abraço.