Introdução
O título desta postagem poderia ser: Você confia nas pesquisas eleitorais? E boa parte das pessoas com quem convivemos responderiam que não sem pestanejar. Aliás essa pulga que mora atrás das nossas orelhas não é exclusividade nossa. Por qual motivo os grandes veículos de comunicação continuam contratando, divulgando e debatendo calorosamente as pesquisas eleitorais? Não temos uma boa resposta e também não é nosso objetivo entrar nessa queda de braço. Mesmo assim vamos dar uma olhada nesse mundo das pesquisas eleitorais que nasceu na Inglaterra no final do século XIX para mapear as condições sociais e de vida dos britânicos. Ao invés de tentarmos responder vamos terminar a introdução com uma frase conhecida entre os estatísticos que é de autoria de Frederick Mosteller, matemático e fundador do departamento de estatística da Universidade de Harvard, no original em inglês: “While it is easy to lie with statistics, it is even easier to lie without them”, em tradução livre com negrito nosso: “Se é fácil mentir com estatísticas, é muito mais fácil mentir sem elas”.
A - Definição de Pesquisa
Qualquer pessoa independente do seu grau de instrução tem alguma noção do que é uma pesquisa. Depois do Google nunca se pesquisou tanto, mas não é bem desse tipo de pesquisa que estamos falando. Para não perdermos o foco e gastar tempo trazemos a definição, com trechos em negrito de nossa autoria, do Instituto Qualibest: “… um processo sistemático e cuidadoso de busca, coleta, análise e interpretação de informações, dados ou evidências com o objetivo de obter conhecimento, responder a perguntas específicas, solucionar problemas, testar hipóteses ou contribuir para o avanço do entendimento sobre um determinado tópico ou assunto. Ela envolve a aplicação de métodos e técnicas específicas para adquirir informações relevantes e confiáveis, permitindo a tomada de decisões embasadas e a geração de novo conhecimento. A pesquisa é amplamente utilizada em diversos setores: ciência/academia, indústria, comércio, serviços, além de decisões políticas e sociais.
B - Pesquisas Eleitorais – 1936, a disputa entre Roosevelt e Landon
Durante 16 anos, ao longo de 5 eleições consecutivas durante os anos de 1916 e 1932, a revista semanal americana de assuntos gerais The Literary Digest acertou o resultado das eleições presidenciais. O método de pesquisa da revista consistia no envio de milhões de cédulas para os eleitores e depois previa o resultado com base nas cédulas que eram recebidas de volta. Até que chegou a eleição presidencial de 1936. Na disputa pela cadeira presidencial estavam concorrendo Franklin D. Roosevelt do partido democrata que estava buscando a reeleição contra o governador do estado do Kansas Alfred Landon, do partido republicano. Em 1936, como de costume a revista enviou cerca de 10 milhões de cédulas para um grupo de eleitores e recebeu em torno de 2.3 milhões de volta. Com base nos milhões de cédulas devolvidas pelos leitores para a revista, que tinha acertado o resultado das últimas 5 eleições, a revista previu a vitória de Landon com cerca de 57% dos votos contra 43% de Roosevelt. Quando as urnas foram abertas e os votos foram contados o resultado foi uma vitória esmagadora de Roosevelt tanto na composição do colégio eleitoral como na votação popular. Roosevelt foi reeleito perdendo apenas em 2 estados e com quase 25 pontos de diferença na votação popular.
A amostra da pesquisa feita pela revista alcançou cerca de 2.3 milhões de eleitores dentro de um universo de aproximadamente 40 milhões de eleitores na época. Essa amostra incluiu seus próprios leitores, cadastros de proprietários de automóveis e de quem tinha telefone. Em breve resumo a década de 30 começa com a maior crise financeira dos EUA, entre outros motivos pela quebra da bolsa em 1929. Uma grande parte da população americana vivia na pobreza, desempregada e sobrevivendo da ajuda de programas sociais para minimizar os efeitos da crise. O início da recuperação começou por volta de 1933, de forma lenta e gradual. Em 1940 perto de 15% da força de trabalho americana ainda estava desempregada. No final da segunda guerra mundial, no segundo semestre de 1945, o percentual de trabalhadores americanos desempregados tinha caído para a casa de 1%. Entre outros motivos a entrada dos EUA na 2.ª Guerra Mundial alavancou o crescimento econômico dos EUA.
Um dos fatores sensíveis em qualquer pesquisa eleitoral é a seleção da amostra populacional. A pesquisa realizada em 1936 pela revista The Literary Digest capturou a intenção de votos de uma parte do eleitorado de renda mais alta, americanos que assinavam ou compravam revistas, tinham carro e telefone. Nessa época havia milhões de americanos desempregados e pendurados num dos diversos programas sociais da época lutando por um prato de comida. Nessa situação esse contingente que não tinha condições de assinar revistas semanais, comprar carro ou pagar conta de telefone estava mais propenso a votar em Roosevelt gratos pelos programas sociais do governo e que ficou de fora da amostra pesquisada pela revista.
Partindo de uma amostra aproximada de 50 mil pesquisas o George Gallup’s Institute of Public Opinion previu acertadamente a vitória de Roosevelt. O instituto Gallup é considerado pioneiro em técnicas de pesquisas por amostragem baseado em estatística. O Gallup cresceu e se consolidou como empresa de pesquisa de opinião, análise e consultoria global atuando em mais de 160 mil países. A revista fechou as portas 18 meses depois de ter cravado a vitória do candidato que foi fragorosamente derrotado nas urnas.
C - As Eleições Presidenciais de 2024 nos EUA
Aproveitando o momento seguinte ao da abertura das urnas das eleições municipais aqui no Brasil e presidenciais lá nos EUA vamos puxar o assunto para a nossa seara das criptomoedas e dos Blockchains. O “abrir as urnas” vai por conta da minha idade, sou do tempo em que os votos aqui no Brasil eram colhidos manualmente, em papel (cédulas), depositados em urnas que depois eram abertas e os votos eram contados e planilhados literalmente na mão. Não estamos aqui para professar nossas preferências por A ou B, o objetivo aqui é mostrar como o combo Blockchain e apostas acertou o resultado das eleições presidenciais nos EUA enquanto a grande maioria dos institutos tradicionais, no mínimo, davam a situação como empatada ou sinalizavam vitória da candidata Kamala.
Antes de prosseguirmos, como dizem popularmente, uma imagem vale por mil palavras. O gráfico abaixo foi retirado do site de apostas POLYMARKET. O gráfico mostra que Donald Trump vinha liderando a corrida até o começo do mês de agosto e por volta do dia 08 Kamala Harris passou na frente pela primeira vez. Lembrando que o então candidato Joe Biden desistiu no final do mês de julho e Kamala foi escolhida para disputar a presidência dos EUA no começo do mês de agosto. O fato novo que foi a entrada de Kamala mudou o cenário que até então era tranquilo para Trump. Até o final do mês de setembro a disputa ficou equilibrada com os dois se alternando na liderança por pequena margem percentual. No começo do mês de outubro conforme mostra o segundo gráfico, Trump passou na frente e não perdeu mais a liderança até o fim da disputa, uma tendência apontada pelo volume de apostas na vitória de Trump a partir de outubro. Bem perto da data da eleição, entre os dias 30 de outubro e 04 de novembro Trump teve uma queda aproximada de 10%, caindo de algo em torno dos 66% de chances de vitória para a casa dos 55%, queda que foi revertida e se concretizou com a apuração final dos votos resultando na vitória de Trump.
Imagem parcial retirada em 11 11 24 de: Presidential Election Winner 2024
D - A Polymarket
O site de apostas Polymarket foi criado em 2020 por Shayne Coplan, quando tinha 22 anos tendo como investidores gente do calibre do Vitalik Buterin (co-criador do Ethereum) e Peter Thiel (co-criador do Pay-Pal, libertário e bitcoiner), cada um investiu USD 70 milhões este ano na empresa.
A Polymarket na definição da própria empresa, primeiro no original em inglês:
“Polymarket is the world’s largest prediction market, allowing you to say informed and profit from your knowledge by betting on future events across various topics.
Studies show prediction markets are often more accurate than pundits because they combine news, polls, and expert opinions into a single value that represents the market’s view of an event’s odds. Our markets reflect accurate, unbiased, and real-time probabilities for the events that matter most to you. Markets seek truth”.
Em tradução livre:
“O Polymarket é o maior mercado de previsões do mundo, permitindo que você se informe e lucre com seu conhecimento apostando em eventos futuros sobre vários assuntos.
Estudos mostram que os mercados de previsões são frequentemente mais precisos do que os especialistas porque combinam notícias, pesquisas e opiniões de especialistas em um único valor que representa a visão do mercado sobre as probabilidades de um evento. Nossos percentuais refletem as probabilidades com precisão, de forma imparcial, e em tempo real para os eventos que mais importam para você. Os mercados buscam a verdade”.
Eu não usaria esse site de apostas como principal ou única fonte de informações (para se informar, como eles dizem). Mas o sucesso deles no caso da recente eleição presidencial dos EUA é incontestável. O gráfico é revelador e quem estava de olho nele realmente sabia com antecedência quem seria o próximo presidente dos EUA, baseado nas chances de vitória a partir das apostas feitas em Trump.
E – Como Funciona a Plataforma
Aos 15 anos Shayne já tinha ganhado bastante dinheiro comprando Ethereum. E vem daí o diferencial que nos leva ao tema das pesquisas eleitorais e de outras coisas que giram em torno deste assunto. A plataforma de apostas foi desenvolvida em Blockchain (do Ethereum). As apostas são do tipo sim ou não e para apostar sim ou não é preciso comprar um token correspondente ao sim ou não. Na data futura em que o evento chega ao seu resultado o sistema aciona automaticamente um contrato inteligente (smart contract) transferindo o dinheiro entre os apostadores perdedores e ganhadores. Tudo funciona sem interferência humana, amparado apenas nos softwares que estão disponíveis para os interessados checarem. Ou seja, exceto pelo fato das entradas não serem controláveis (não existe barreira que impeça apostas para um lado ou para outro), dá para assumir que não há nenhum tipo de controle ou gestão sobre os percentuais das apostas, o sistema foi desenhado para funcionar praticamente de forma autônoma, sem intervenção humana. Em outras palavras, o livro de ordens não tem limite definido e depende da disposição dos apostadores (compradores e vendedores dos tokens sim e não). Esse mecanismo de oferta e demanda de tokens indicando a vitória de um ou outro é um dos fatores que ajudam a definir o preço do token sim ou não. Outro aspecto importante que tem influência no sistema é a liquidez (quantidade de apostadores efetivos comprando e vendendo os tokens).
Um assunto que atrai outros apostadores, por exemplo, é o preço que o Bitcoin poderá atingir no num determinado mês. No momento em que consultamos o site, por volta das 11:30 do dia 06/12/24 o preço mais apostado é de 105 mil dólares com mais de 73%. Outros 60% estão otimistas a ponto de apostarem que o preço do BTC poderá atingir os 110 mil dólares. A turma dos pessimistas não fica muito para trás, temos mais de 40% apostando que o preço do BTC cai para a casa dos 90 mil dólares. A faixa de apostas vai de 85 mil dólares que mostra 24% de chances e lá em cima os otimistas colocaram as chances do BTC atingir 130 mil dólares na casa dos 15%, que não é desprezível considerando que estamos no começo do mês. Nestes 8 dias do mês de dezembro de 2024 o preço do BTC já chegou a superar os 103 mil dólares e depois acabou voltando para perto dos 100 mil dólares.
Imagem parcial retirada em 06 12 24 de: What price will Bitcoin hit in December?
No print com o gráfico sobre as apostas feitas na disputa presidencial americana, no canto superior esquerdo ao lado da data, consta que o volume total apostado chegou perto dos USD 3.7 bilhões (considerando o dólar da época o total apostado equivale a mais de 20 bilhões de Reais). Em outubro 10 contas (um apostador pode abrir mais de uma conta) contabilizavam mais de USD 70 milhões apostados na vitória de Trump. Uma única conta com o nick Fredi9999 comprou ou apostou no sim (vitória de Trump) no dia 18/10/24 ajudando a “puxar” as chances de vitória para cima. No dia 28/10/24 outra conta com o nick zxgngl comprou mais de USD 7 milhões de tokens sim (vitória de Trump) levando as chances de vitória de Trump para a casa dos 66%. De acordo com uma postagem feita no “X” (antigo Twitter) com nick Domer no dia 31/10/24, mais da metade dos tokens sim (vitória de Trump) tinham sido comprados por apenas 5 (cinco) usuários (big players). Com a vitória de Trump apenas esses 5 apostadores embolsaram mais de USD 81 milhões. Um terço desse montante foi ganho pelo apostador com nick LeGigaWhale. Especula-se que pelo menos 4 (quatro) nicks entre os maiores tenham sido criados por um único apostador com muita confiança na vitória de Trump.
O valor das apostas individuais varia de USD 0,01 a USD 1,00. Se uma aposta no sim para um determinado evento estiver sendo negociado por USD 0,60 significa que a probabilidade do evento apostado se confirmar é de 60% de acordo com o consenso das apostas. As apostas feitas no resultado correto recebem o valor cheio de USD 1,00. Ou seja, o lucro do apostador é obtido pela diferença entre o valor de USD 1,00 e o valor pago no momento da aposta. Se o apostador pagou USD 0,60 sai com um saldo positivo de USD 0,40. Os apostadores que erraram a previsão e apostaram errado perdem o que apostaram. A casa (Polymarket) não fica com nenhuma parte das apostas, como ocorre com as outras casas de apostas mas cobra uma taxa de transação apenas das apostas vencedoras.
Para se tornar um apostador no Polymarket é necessário ter uma carteira digital Metamask e as criptomoedas Matic para pagar as taxas e a criptomoeda USDC para fazer as apostas porque a plataforma realiza suas operações usando a stablecoin USDC (US Dolar Coin) que nasceu em 2018 com valor pareado com o dólar dos EUA e cujos tokens foram criados no Blockchain do Ethereum. A criptomoeda USDC tem entre seus criadores a Exchange Coinbase e a Circle (Circle Internet Financial Limited), uma empresa de tecnologia de pagamentos via rede peer-to-peer. Como diferencial a Circle que é a empresa controladora do USDC tem registro e sede nos EUA para atuar como uma empresa de serviços financeiros. Atualmente a empresa responsável pela auditoria é a Deloitte & Touche LLP que tem como principal função checar se realmente existe a paridade entre as criptomoedas USDC em circulação e o equivalente em dólares reservados/estocados para honrar os saques quando a conversão de USDC (moeda digital) para dólar for solicitada.
A Polymarket opera na rede Polygon que nasceu em 2017 como Matic Network com a proposta de oferecer alternativas para alguns problemas do Blockchain Ethereum que eram gerados por causa do congestionamento da rede e por causa das altas taxas de transação. Basicamente o Polygon atua como uma segunda camada do Blockchain principal do Ethereum acrescentando e/ou complementando as funcionalidades do sistema principal (Ethereum). Uma das tecnologias adotadas pela Polygon é conhecida como sidechain, uma forma de conectar Blockchains distintos para que troquem ativos de um Blockchain para outro. Em 2021 o nome mudou para Polygon.
Curiosamente desde 2022 o Polymarket está aceitando apostas apenas de fora dos EUA por causa de uma pendência com a CFTC Commodity Futures Trading Commission por não ter se registrado na CFTC, tendo pago uma multa de USD 1,4 milhão por causa disso. Em outro caso a CFTC tinha bloqueado apostas eleitorais de outra empresa de apostas, a Kalshi. O bloqueio foi revertido em outubro após recurso feito ao Tribunal de Apelação do Distrito de Columbia. Essa decisão motivou a entrada de outras plataformas de apostas tais como Interactive Brokers e RobinHood no ramo de apostas eleitorais no mercado americano.
Obs.: Não estamos fomentando apostas. O mercado de apostas sempre será uma aposta, onde uns poucos ganham e uma grande maioria geralmente perde.
F - Os Institutos Tradicionais e a Atlas Intel
A forma mais tradicional de pesquisa de opinião é aquela feita em campo (entrevistas) como é o caso do DataFolha e da Quaest. Quem duvida das pesquisas costuma citar que nunca foi “pesquisado”. As chances de alguém ser “pego” para uma pesquisa desse tipo é de 0,013% numa cidade como São Paulo. A segunda forma mais utilizada é a pesquisa feita via ligação telefônica, como é o caso da Ipespe e do PoderData.
O que diziam os tradicionais institutos de pesquisa com base em seus números a respeito da eleição presidencial americana? O jornal americano The New York Times, com base em dados agregados fornecidos pelos Institutos tradicionais, a chance de vitória de Kamala era de 56%, enquanto o Polymarket indicava que a chance de derrota de Kamala era de 96%.
Uma postagem no site da CNN Brasil com data de 04/11/24, as 15:59 dizia que nova pesquisa da NPR/PBS News/Marist indicava que Kamala venceria com 51% e Trump perderia com 47%. Dados da própria CNN indicavam que 49% apoiavam Kamala e 47% apoiavam Trump. Friamente falando, uma diferença de 2% numa pesquisa eleitoral indica um empate com leve tendência para vitória de Kamala.
Imagem parcial retirada em 08 12 24 de: Eleições nos EUA: Nova pesquisa mostra Kamala com 51% e Trump com 47% | CNN Brasil
Nem tudo é mato nesse universo das pesquisas eleitorais. Uma empresa brasileira de tecnologia (big data) fundada em 2017 por Andrei Roman (CEO) apresentou números próximos ao resultado final da eleição nos EUA. A pesquisa da Atlas Intel dava 49.8% para Trump e 48.3% para Kamala. O Trump foi eleito com 50% e Kamala teve 48.8% na apuração final.
Imagem parcial retirada em 08 12 24 de: AtlasIntel is the Most Accurate Pollster of the US Presidential Election 2nd Time in a Row | AtlasIntel
Imagem parcial retirada em 08 12 24 de: AtlasIntel aponta Trump na frente nos estados-pêndulo
Já em 2019 a Atlas Intel apresentou dados bastante precisos sobre o resultado da eleição na Argentina. A Atlas Intel captura seus dados de forma digital. A empresa recruta eleitores no mundo digital tentando capturar uma amostra abrangente e diversificada de eleitores de regiões diferentes e com situações econômicas distintas. Com os números em mãos a empresa usa algoritmos de machine learning e técnicas de pós-estratificação (para ajustar a amostra e garantir que os dados representem uma média do contingente eleitoral). A empresa também coleta dados nas redes sociais e monitora tendências para identificar padrões. Os dados são atualizados em tempo real e segundo a empresa isso permite que eventos recentes que tem potencial para influir na decisão do eleitor são capturados e refletem nos números divulgados pelo Instituto. Para a prefeitura da cidade de São Paulo a pesquisa da Atlas Intel divulgada em 21/10/24 indicava vitória de Nunes (54,8%) sobre Boulos (42,2%).
Aparentemente a novidade está mostrando mais serviço e se mostrando mais confiável do que o tradicional (pesquisador de campo ou via telefone).
G - O Brasil e as Apostas Eleitorais
No Brasil temos um Tribunal específico que além de centralizar e julgar as questões eleitorais ainda edita normas, por exemplo proibindo apostas eleitorais argumentando que as apostas podem interferir no resultado das eleições. Enquanto isso, nos EUA onde não existe um Tribunal específico que centraliza o julgamento de questões eleitorais uma Corte de Apelação (mais ou menos equivalente ao nosso TRF – Tribunal Regional Federal, ou dependendo também equivalente ao STJ – Superior Tribunal de Justiça) liberou apostas eleitorais.
Transcrevemos abaixo a íntegra do inciso 7.º da Res. 23.735 de 27/02/2024 alterado pela Res. 23.744 de 17/09/2024 do TSE, que proíbe apostas eleitorais, com negrito nosso:
“§ 7º A utilização de organização comercial, inclusive desenvolvida em plataformas online ou pelo uso de internet, para a prática de vendas, ofertas de bens ou valores, apostas, distribuição de mercadorias, prêmios ou sorteios, independente da espécie negocial adotada, denominação ou informalidade do empreendimento, que contenha indicação ou desvio por meio de links indicativos ou que conduzam a sites aproveitados para a promessa ou oferta, gratuita ou mediante paga de qualquer valor, de bens, produtos ou propagandas vinculados a candidatas ou a candidatos ou a resultado do pleito eleitoral, inclui-se na caracterização legal de ilícito eleitoral, podendo configurar abuso de poder econômico e captação ilícita de votos, estando sujeita à aplicação do § 10 do art. 14 da Constituição do Brasil e do art. 334 da Lei n. 4.373/1965 - Código Eleitoral, dentre outras normas vigentes”.
A proibição das apostas eleitorais no Brasil não surpreende tendo em vista que até as pesquisas eleitorais tradicionais que serão divulgadas publicamente estão no limite da proibição. Este tipo de pesquisa deve ser submetido com antecedência de 5 dias antes da divulgação na Justiça Eleitoral informando dados como contratante, quanto custou, origem do recurso gasto na pesquisa, período, metodologia, quais perguntas serão feitas etc. Até mesmo a realização de uma mera enquete é proibida no período de campanha eleitoral. Apesar de termos um imenso conjunto de leis cercando praticamente tudo que se relaciona ao processo eleitoral conjugado com um sofisticado, seguro e bem construído sistema de votação eletrônica os crimes eleitorais ainda estão correndo soltos por aí. A lista de crimes eleitorais passa pelas fake news, falsos eleitores, compra de votos etc. Pois é, na prática a teoria é outra como dizem popularmente por aí.
Imagem parcial retirada em 08 12 24 de: Federal desbarata casos de compra de voto, aliciamento e outros crimes eleitorais — Agência Gov
Conclusão
Tentamos abordar o assunto sem entrar em aspectos maçantes para a maioria dos mortais pulando temas como margem de erro, desvios, medianas, ciclos etc. No fundo as pesquisas eleitorais tentam captar tendências de intenção de voto, no fim do dia, quem tem mais chances de ganhar a próxima eleição. Essa indústria nasceu no final do século XIX e se consolidou a partir do século XX. Nesse sentido traçamos um breve histórico do processo de realização de pesquisas eleitorais nos EUA nos anos 30 e do erro colossal de uma pesquisa que apesar de contar com uma amostra de mais de 2 milhões de eleitores fracassou totalmente e foi humilhado por uma pesquisa que contou com cerca de 50 mil entrevistados. Uma lição que fica para os iniciantes que não enxergam nada além das criptomoedas quando começam a ler sobre o tema é que existem muitas coisas que podem ser criadas e desenvolvidas com a tecnologia Blockchain, criptomoeda é apenas uma delas.
Cada país cuida do seu processo e se é possível ganhar algum dinheiro apostando em quem vai ser o próximo presidente dos EUA aqui no Brasil até mesmo uma pesquisa eleitoral feita nos moldes tradicionais tem uma série de restrições impostas legalmente. Vivemos numa época em que alguns iluminados se acham capazes de determinar nos mínimos detalhes o comportamento de milhões de pessoas “menos iluminadas”. Um dos resultados dessa sanha regulatória é termos “leis que pegam e leis que não pegam”. A vida em sociedade exige um mínimo de organização e controle para que a coisa toda não descambe na base do quem pode, pode e quem não pode se sacode, traduzindo: viver pela lei do mais forte. O equilíbrio merece mais respeito nos tempos atuais.
Fontes:
https://learn.polymarket.com/docs/guides/
MetaMask: conheça essa carteira digital para criptoativos.
The Literary Digest - Wikipedia.
Leis — Tribunal Superior Eleitoral