O que é Inflação, e o que isso tem a ver com criptomoedas?

Eu sei que este é um assunto que muitos acham chato demais

Outros buscam no google uma resposta rápida para satisfazer a curiosidade e acabam tratando o assunto de forma simplista como: “É o aumento dos preços, e ponto final.”, mas nunca se perguntam o motivo desse aumento, o verdadeiro impacto no seu bolso, e o que fazer a respeito.

E por esta razão muitos não entendem exatamente o que inflação tem a ver com criptomoedas, já que atualmente a venda de produtos em troca de criptomoedas é pequena em comparação a qualquer moeda estatal.

Uma coisa eu posso garantir: É difícil de entender muito bem criptomoedas quando não se entende alguns conceitos básicos de economia, e inflação é com certeza um deles.

Não sou economista e nem me considero um expert na área, sou só um programador interessado no assunto, portanto este texto vai explicar de forma simples o que é inflação, e o que ela tem a ver com criptomoedas. (se você, economista, quiser contribuir ou corrigir algum conceito… fique à vontade).

Jogando dinheiro pela janela…

Tem gente que passa muitos anos da vida reclamando que tem a sensação que a cada ano as coisas estão ficando mais caras… bem… isto é de fato uma verdade.

Os preços realmente aumentam ano a ano, e isto não é segredo para ninguém.

No Brasil o IBGE anualmente divulga um estudo para dizer o quanto (em porcentagem) as coisas aumentaram de preço.
Esta porcentagem é um índice chamado IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Há duas formas de olhar para este índice:

  1. É o quanto os preços aumentaram
  2. É o quanto o dinheiro que você já tem desvalorizou.

Veja que todo o dinheiro que você tem guardado já não pode mais comprar aquilo que você podia no ano passado com a mesma quantidade de dinheiro: Inflação!

Ou seja, se o IPCA disser que em 2016 a inflação foi de 6,29% (e foi exatamente essa), significa que o dinheiro guardado na conta corrente, ou embaixo do colchão, que você tinha em Janeiro de 2016 (apesar de numericamente ser idêntico), só conseguia comprar 93.71% das mesmas coisas em Dezembro de 2016.

Por simplesmente não fazer nada (como a maioria dos brasileiros)… passou o ano e… PUF!! Perdeu 6,29% do que tinha guardado.

Portanto, fica a dica: Investir não é só para “lucrar”. Investir é uma obrigação para proteger o seu patrimônio de se desvalorizar espontaneamente.

Por que isso acontece?

Claro que se você não sabia o que era inflação até agora, agora deve estar interessado em saber por que em 2016, 6,29% do seu dinheiro desapareceu sem você perceber.

Bem, como falei, não sou economista… mas como ser humano eu sei que há uma coisa comum entre todos nós: Valorizar o que é escasso.

Quer ver?

  • Você entra na loja querendo comprar um tênis, e incrivelmente aquele mesmo tênis parece ficar 10x mais atrativo quando o vendedor diz que é a ÚLTIMA unidade!
  • Você vai comprar um bilhete aéreo no site de viagens e ele diz que ÚLTIMA poltrona no vôo (a ansiedade bate!).
  • Você quer comprar ingresso para um show mas dizem que vai se esgotar em poucos minutos…

você entendeu a ideia…

Por que nós somos assim? Sei lá. Pergunte para um profissional da área de humanas / biológicas.

O que interessa aqui é que nós damos valor ao que é escasso. Nosso cérebro grita ao ver algo único e escasso.

E o que isso tem a ver com inflação? Já chegaremos lá.

Se quando algo é escasso, nós damos valor, o que acontece quando algo é abundante?

Evidentemente o oposto. Percebemos menos valor, pois podemos conseguir aquilo posteriormente ou mais facilmente.

Bem, e o dinheiro? A ideia é muito similar.

Quanto maior a abundância do dinheiro em circulação, menos ele tende a valer (se o volume de dinheiro for maior do que a oferta de bens e serviços à venda).

Claro que não é só isto que dita o valor do dinheiro, mas a quantidade da moeda em circulação em descompasso com a riqueza que ela representa é sem dúvida um dos fatores que afeta o seu valor.

E o que isto tem a ver com criptomoedas?

Tudo!

Uma das características mais importantes das criptomoedas, e que é denotada no white paper do Bitcoin, é que não devem permitir inflação:

Once a predetermined number of coins have entered circulation, the incentive can transition entirely to transaction fees and be completely inflation free.

Isto significa que ao se criar uma criptomoeda, seu criador decide a quantidade máxima de moedas que poderão ser mineradas.

Ou seja, não tem como fabricar novos bitcoins após todas as moedas terem sido mineradas.
A tecnologia da blockchain foi desenvolvida para que isto nunca seja possível uma vez que a rede está formada.

No caso do Bitcoin, o número total de moedas é de 21 milhões e atualmente a estimativa é que o último bitcoin seja minerado perto do ano de 2140.

O que isso significa no final das contas?

Isto significa que o valor do bitcoin é determinado pelo mercado, respeitando as leis de oferta e demanda, e nenhum órgão governamental pode influenciar diretamente ou controlar o valor do bitcoin (existem maneiras de influenciar o valor indiretamente, e há várias tentativas evidentes, mas isto é papo para outra hora).

Uma vez que a injeção de novas moedas no mercado acabe, não haverá chance de existir inflação causada pelo aumento de oferta da moeda.

Espero que este artigo tenha ajudado.

Ps: Se você entende bem do assunto e quer contribuir com correções ou complementos, fique à vontade para sugerir mudanças.

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Boa noite, Tiago!

Sobre a definição do mainstream Econômico de que a inflação seja um aumento geral dos preços. Veja, não gosto dela. Prefiro a definição da Escola Austríaca que diz que inflação e expansão da oferta monetária(Há mais dinheiro em circulação). Veja, Por mas interligado que o nosso mundo seja(cadeia de produção) fica difícil de crer que todos os preços subam, mesmo quando há aumento na oferta de determinado produto.

Gostei demais da ideia do fórum. :smile:

Att. Josué.

2 curtidas

Opa! Fala Josué.

Excelente ponto!

Talvez daria para encarar assim: A definição tradicional de inflação dá um enfoque na consequência (aumento dos preços), e a escola austríaca dá enfoque na causa dos aumentos.

Eu pessoalmente também prefiro a da escola austríaca. :slight_smile:

Obrigado pela contribuição e seja bem vindo à Tribo!

1 curtida

Olá Criptomaníacos!

Eu que já passei dos 50 sei bem o que é inflação, e ainda pior, sei o que é hiperinflação, eu vivi numa época em que a inflação parecia e era retratado como um dragão invencível. Até que veio o plano Real para acabar com aquela loucura. Hoje é até engraçado lembrar daqueles tempos em que o salário mínimo, por exemplo, no mês de julho de 1993 era de Cz$ 4.639.800,00 (o nome da nossa moeda era Cruzado) e para comprar um carro você tinha que pagar 100, 200, 300, 400, 500 ou 600 milhões! Em 1993 a inflação anual foi de 2.477,15% (IPCA). Exatamente um ano depois, em julho de 1994 o salário mínimo era de R$ 64,79 devido a implementação do Plano Real. De 1989 a 1994 nossa moeda mudou várias vezes de nome (Cruzeiro, Cruzeiro Novo, Cruzado, Cruzeiro novamente e por fim Real). Entre outros motivos, o fato de ter vivido em tempos de hiperinflação me faz dar mais valor ainda ao Bitcoin.

Veja aqui uma reportagem sobre os 20 anos do Plano Real:

Veja aqui um tipo de anúncio bem popular na época, ainda não existiam sites de vendas de carros como os de hoje:

No mundo perfeito, nenhuma moeda teria inflação.

No entanto, no mundo real, nenhuma criptomoeda que usa proof-of-work é escalável sem a presença de uma inflação mínima. A recompensa dos mineradores é o incentivo que mantém eles interessados em minerar a moeda. Se você reduz a recompensa até chegar a zero, você fica dependente de um “mercado de taxas”, que é algo incerto, que jamais foi testado e provavelmente irá falhar (por falta de incentivo econômico aos mineradores).

Para o Bitcoin sobreviver a longo prazo, certamente ele terá que remover o limite de 21 milhões de unidades (violando o contrato social) e inserir uma emissão-base mínima.

Vale lembrar que a dificuldade de mineração se ajusta a cada 2016 blocos, portanto a tendência é que no longo prazo sempre seja de alguma forma vantajoso para alguém a mineração, mesmo que seja somente para coletar taxas. Se pessoas desistirem de minerar, em pouco tempo a dificuldade se ajusta, tornando a atividade novamente lucrativa.

Concordo que esta é uma das incógnitas que temos. Realmente não sei o que acontecerá e nem me arrisco em fazer previsões, mas há outros motivos técnicos pelos quais a rede precisará de um hard fork de qualquer forma. Se houver consenso que é necessário remover o limite em algum ponto, acredito que assim será feito. Quem viver, verá.