Livro: Armas, Germes e Aço: os destinos das sociedades humanas

Armas, germes e aço os destinos livro Jared
Parte da capa do livro

Este livro estava na minha lista e por acaso eu descobri que é possível baixar o livro em PDF no site da USP, que eu já citei em outra postagem neste site. Resolvi compartilhar o link para quem eventualmente se interessar. Nos tempos atuais onde Ucrânia e Faixa de Gaza aparecem no noticiário de manhã até a noite dizem que este livro é interessante para entender geopolítica. Não vou me estender muito porque estou no começo da leitura.

Para o autor do livro, Jared Diamond, o livro definido numa frase: “A história seguiu diferentes rumos para diferentes povos devido às diferenças entre os ambientes em que viviam e não devido a diferenças biológicas entre os povos”.

O autor tenta explicar porque a Europa, a Ásia, a Oceania e as Américas não foram colonizados pelos Africanos. Foram os Europeus que colonizaram os demais continentes incluindo a própria África, berço dos humanos modernos. Ou seja, em princípio e pela ordem natural das coisas o normal seria os Africanos colonizarem e escravizarem os Europeus e Americanos e não o contrário. A pergunta que se faz no livro e que se tenta responder é por qual motivo isso ocorreu. A resposta começa pelo próprio título do livro, armas de metal, animais domesticados como cavalos e doenças contra povos armados com paus, pedras e sem imunidade biológica contra germes trazidos pelos invasores.

Outros fatores também são trazidos como a importância da escrita e por consequência das invenções que puderam ser registradas. Também há um fator de natureza geográfica que explicaria os diferentes ritmos de expansão e de evolução dos povos. A Eurásia, como o próprio nome diz é formado pelos países Europeus e Asiáticos. Olhando no mapa nota-se que é uma grande porção de terra que tem um eixo predominantemente horizontal ou oeste-leste. Já o continente Americano e Africano tem eixo vertical ou norte-sul. A localização geográfica também explica questões como clima temperado da Eurásia ser considerado melhor do que o tropical dos países próximos e ao sul do equador. A questão climática também afeta a produção de alimentos que é outro fator considerado importante para uma evolução mais acelerada dos países da Eurásia em relação a outros Americanos e Africanos.

É claro que não dá para se basear numa obra do campo da história para extrair explicações completas e finais sobre as diferenças econômicas evidentes entre os países que estão localizados acima do equador e os que estão abaixo. Todavia é um bom ponto de partida e talvez por causa disso é uma obra que costuma ser citada entre os que abordam o tema da geopolítica.

Link para o livro em PDF:

Vídeo com palestra sobre o que é geopolítica que já postei anteriormente:

/ As notas abaixo não são opiniões pessoais e sim um breve resumo do trecho lido /

Nota 01 (16/10/23): Para quem tem forte apego a teoria criacionista e tem dificuldade em lidar com a teoria evolucionista sugiro pular o o Capítulo 1 - O Ponto de Partida, ou nem se aventurar na leitura.

Nota 02 (18/10/23: O ambiente afeta as sociedades humanas, desde sempre. Fatores que influenciam o desenvolvimento de um país: tamanho da extensão territorial, clima, isolamento ou não e recursos geológicos, naturais e biológicos. Outro fator fundamental é o tamanho da população e a sua densidade (mais agrupadas em comunidades ou dispersas nos campos). Esta influência ocorre m todos os sentidos indo desde o nível dos avanços tecnológicos e seus reflexos na economia passando pela organização política da sociedade que se estrutura em maior ou menor grau. Um ponto de virada nesse processo é a passagem do modo de sobrevivência baseado na produção para o próprio sustento tanto da caça e pesca como da agricultura para o modo de produção em excesso que cria a possibilidade de trocas. O excesso da produção de alimentos permite que parte da população se dedique a outras atividades importantes como construção de casas, utensílios domésticos, manutenção de exércitos, produção de armas e sustento de líderes que fazem a gestão das comunidades. No passado, em geral, as comunidades que se dedicavam exclusivamente a sua própria subsistência foram dominadas por outras mais organizadas, estruturadas e tecnologicamente melhor preparadas. Todas estas atividades são possíveis desde que haja excesso de produção, alguma liderança estruturada e recursos naturais à disposição. Até mesmo o fato de um grupo atacar, saquear e dominar outro dá experiência para planos futuros de expansão, geralmente territorial com motivos anexos como mão de obra (escravização) e busca de recursos.

Nota 03 (20/10/23): A história é clara. O novo mundo (a América de norte a sul) foi colonizado pelos Europeus. Menos de 200 homens sob o comando do conquistador espanhol Pizarro, por exemplo, venceu uma batalha contra mais de 80 mil índios Incas, capturando o seu maior líder, reverenciado como um deus. Alguns fatores que explicam esse resultado e a vantagem dos conquistadores e colonizadores Europeus: 1) o conhecimento da escrita; 2) o uso da tecnologia (armaduras e armas de metal contra tacapes de madeira, pedras e roupas ou adornos mais frágeis), capacidade de construção de navios e uso de cavalos domesticados); 3) a disseminação de doenças infecciosas endêmicas comuns na Eurásia que foram trazidas pelos conquistadores entre os índios que não tinham imunidade; 4) a estrutura social organizada dos Europeus (imperador, governadores, exércitos, etc.); e 5) tudo foi feito em nome de sua Majestade Católica Imperial, o rei da Espanha Carlos I para levar Deus aos infiéis. Frades participavam das expedições e perdoavam antecipadamente os soldados europeus pelas matanças dos infiéis. Em uma frase: armas, germes e aço contra paus, pedras e povo sem imunidade.

Nota 04 (21/10/23): Uma fase importante da evolução humana foi a domesticação de animais e a passagem do ciclo de caça e coleta de plantas disponíveis na natureza para a fase do consumo de alimentos produzidos para si mesmo e fornecer para outros humanos além de estocar o excesso. Foi na Eurásia que esse processo de desenvolveu de forma consistente. A produção própria de alimentos mostrou-se muito mais eficiente do que o processo de caça e coleta. A produção própria é otimizada e caso não haja imprevistos praticamente tudo pode ser aproveitado. Animais podem fugir, atacar de volta ou serem muito grandes para serem caçados com armas rudimentares. Plantas em sua maioria não são comestíveis e ainda podem ser perigosas para a saúde. Foi aqui que nasceu o sedentarismo, quem domesticou animais e aprendeu a produzir seus próprios alimentos fixou-se num lugar ao contrário dos caçadores e coletores que precisam se movimentar constantemente atrás de alimentos. A produção e estocagem de alimentos em excesso permitiu o surgimento de especialistas que podiam se dedicar única e exclusivamente na produção de utensílios, armas, armaduras ou adornos sem ter que ir atrás de alimentos. A vantagem de uma vaca domesticada que produz leite, ara terras, transporta muito mais peso em relação aos humanos, se reproduz e até fornece carne em relação a quem simplesmente mata uma para consumir é evidente. Mais calorias trouxe aumento da população :grin:, que se estrutura melhor sendo que alguns crescem, se transformam em reinos, dominam territórios, se defendem melhor e tem mais capacidade tecnológica para conquistar e subjugar outros povos (como ocorreu no caso dos conquistadores Espanhóis vencendo os Incas). Esse processo evolutivo ocorreu especialmente de forma mais acelerada no espaço geográfico da Eurásia e não ocorreu nas Américas, na Austrália e na África que, por consequência, foram subjugados e colonizadas pelos Europeus.

Nota 05 (24/10/2023): Quem têm e quem não têm pode explicar a diferença entre vencer ou não. A produção de alimentos se desenvolveu em grande parte nos locais que não eram os mais apropriados e somente depois chegaram nas regiões mais férteis. Em considerável proporção a prática foi importada pela chegada de plantas comestíveis ou de animais domesticados trazidos pelos invasores. Este processo foi se repetindo ao longo do tempo em diferentes momentos da história, ou seja, não houve um processo linear de desenvolvimento, a gente sabe bem disso. A título de curiosidade trigo, ervilha, azeitona, ovelhas e cabras foram “domesticados” aproximadamente 8.500 a.C.; e arroz, milho, batata, mandioca, porco e bicho da seda cerca de 3.500 a.C. Essa “domesticação” de plantas e animais ocorreu em momentos muito distantes na linha do tempo e em locais também distintos e distantes um do outro, como Ásia oriental, Europa e América. A conclusão é que foi em poucos lugares do mundo que a produção de alimentos desenvolveu-se de forma independente, em momentos diferentes da história e foi a partir destes núcleos que os povos das regiões vizinhas aprenderam o processo de “domesticação”, seja copiando ou sendo dominado, colonizado e até exterminado. Quem dominou o processo de produção e “domestimação” de alimentos e de animais saiu na frente no caminho que levava até as armas, os germes e ao aço.

Nota 06 (26/10/23): Por quais motivos os povos que viviam da caça e da coleta de alimentos e habitavam regiões próximas das que eram habitadas por povos que produziam alimentos não mudaram seu estilo de vida, ou demoraram até milhares de anos para fazê-lo, mesmo chegando a interagir com estes povos, em algumas regiões? Há casos de povos que mudaram e centenas de anos depois voltaram a viver da caça e da coleta. As coisas foram meio que acontecendo por escolhas feitas aqui ou ali por um povo ou por outro. Tem mais a ver com decisões inconscientes tomadas para otimizar a alocação do tempo e do esforço basicamente braçal da época. As decisões tinham como objetivo atender prioridades e alocação de esforços pensando na sobrevivência. As escolhas eram do tipo caçar para obter alimentos para o dia ou plantar para colher no futuro sem ter a certeza do resultado devido aos riscos naturais do ambiente? Fato é que ao longo dos últimos 10 mil anos houve uma gradual evolução do processo de caça e coleta para o sistema de produção de alimentos. Verificou-se ainda que alguns povos mesclavam produção de alimentos com a caça e coleta. Fatores que podem ter levado adiante esta transição, podendo variar de acordo com a região: 1) a caça e coleta vai reduzindo a disponibilidade dos alimentos na natureza; 2) mudança climática que mostrou ser interessante produzir alimentos em boa quantidade num curto espaço de tempo; 3) o desenvolvimento de “tecnologia” para armazenar de forma segura o excesso de produção (surgiram utensílios como foices de ferro, cestos para carregar, torrar grãos para evitar que germinassem, aparelhos para moer cascas grossas e/ou duras etc.); 4) a maior densidade populacional exigiu um processo de produção própria de alimentos. A dúvida é saber se o aumento da população e a maior demanda por alimentos incentivou essa evolução do processo ou se foi o contrário, a maior produção de alimentos resultou no aumento da população. Possivelmente foi um pouco dos dois fatores; e 5) o fator geográfico ainda pode ter preservado alguns povos que viviam da caça e da coleta em algumas regiões de difícil acesso ou que não eram propícios para a produção de alimentos. Os que habitavam regiões boas para a produção de alimentos se mudaram, foram mortos ou acabaram abandonando a prática e adotando a produção de alimentos como meio de sobrevivência.

Nota 07 (29/10/2023) Os primeiros passos, ainda inconscientes, no cultivo de alimentos foram dados com base no tamanho, amargor, quantidade consumível, oleosidade e fibras. Estima-se que este processo começou cerca de 10.000 a.C. Uma descoberta que ajudou no processo de evolução foi a percepção das vantagens de escolher, preparar e molhar uma área exclusiva para o plantio que reduziu o tempo de maturação em relação aos que cresciam livremente na natureza. O ciclo de semear, esperar crescer, colher, consumir parte da produção e voltar a semear outra parte ajudou, ainda que primitivamente, no processo de mutação das características dos produtos que se tornavam melhores para o consumo. Curiosamente, na antiguidade, rabanete, beterraba e alface que nasciam em áreas cultivadas eram consideradas ervas daninhas. Parafraseando Darwin, basicamente, o processo evolutivo da produção de alimentos teve como fundamento o plantio e a seleção consciente das melhores sementes dos produtos mais apreciados. Alguns destes alimentos, como por exemplo os cereais, até hoje se constituem em importantes fontes de calorias como o trigo, arroz e feijão.

Nota 08 (01/11/23) Cerca de 80% dos alimentos produzidos através do cultivo de plantas se resume a pouco mais de uma dúzia, tais como: trigo, milho, arroz, cana de açúcar e banana. Todas já domesticadas há milhares de anos. Neste momento vale registrar a importância de uma região geográfica conhecida como “Crescente Fértil”, citada também como “berço da civilização”, que fica entre os rios Tigre, Eufrates, Jordão e Nilo e tem um formato parecido com uma lua crescente. Atualmente esta região é onde se localiza atualmente a Palestina, Jordânia, Israel, Líbano, Kuwait, Chipre e partes do Egito, Síria, Irã e Turquia. É a região que também tem um clima chamado de mediterrâneo, caracterizado por invernos amenos e úmidos e por verões longos, quentes e secos. O que explica o sucesso evolutivo desta região e dos seus habitantes em relação a povos de outras regiões está na quantidade de plantas disponíveis em abundância, no clima e topografia favorável numa região relativamente pequena. Nada tem a ver com características étnicas de um povo em relação a outro.

Nota 09 (03/11/23) Entre todos os mamíferos domesticados temos 5 que se tornaram importantes e se espalharam por todas as regiões do planeta, mesmo sendo originários de uma determinada região: vaca, ovelha, cabra, porco e cavalo. Ovelhas e cabras são originárias da Ásia. Vacas e Porcos são originárias do norte da África e da Eurásia. Cavalos são originários do sul da Rússia, atualmente da região conhecida como Ucrânia. Em comum todos têm origem na Eurásia ou no Norte da África. Os Eurasianos domesticaram 13 espécies entre 72 possíveis. A África subsaariana (países que ficam abaixo do deserto do Saara) tinha 51 espécies e não domesticou nenhuma. Nas Américas existiam 24 espécies domesticáveis e apenas uma foi domesticada. Basicamente o que podia ser domesticado já foi. Dentre as regiões destaca-se o sudoeste da Ásia ou Ásia ocidental (formado por países como Arábia Saudita, Irã, Kuwait, Iraque, Líbano, Israel e Palestina entre outros) onde cachorros foram domesticados 10.000 a.C.; ovelhas, cabras e porcos foram domesticados 8.000 a.C.; e as vacas 6.000 a.C. O motivo pelo qual pouco mais de uma dúzia de mamíferos foram domesticados num universo de quase 150 disponíveis na natureza pode ser resumido pelos seguintes pontos: a) dieta e crescimento rápido - muitos demoram anos para crescer e o custo de alimentá-los não compensava; b) facilidade de reprodução (alguns animais têm rituais de acasalamento longos e muitas vezes rude para nossos olhos, comportamento que um cativeiro pode inibir e dificultar a multiplicação da raça; c) riscos - a índole mais agressiva de alguns animais como rinocerontes, gorilas ou ursos apesar da grande quantidade de carne que poderiam oferecer; d) comportamento – animais como ovelhas e cabras gostam de ficar juntas, demoram para fugir e são mais lentas enquanto cervos e antílopes são mais ariscos e rápidas na fuga. Animais que ficam nervosos em cativeiro, em geral, não foram domesticados; e) certa estrutura social - ovelhas, cabras e vacas vivem em rebanho sem brigar por comida, território ou quando estão procriando. Em resumo a domesticação dependeu da dieta, da taxa de crescimento, dos hábitos de acasalamento, da índole, da tendência ao pânico e de algumas características básicas de organização que permitia uma convivência pacata em bandos. O processo não teve influência da etnia e sim da origem geográfica e das disponibilidades naturais, novamente muito mais favoráveis na região da Eurásia.

Nota 10 – (06/11/2023) A geografia influenciou o futuro dos povos nativos da África, da América e da Eurásia nos últimos 500 anos. A evolução da agricultura, da pecuária e da tecnologia se deu melhor no eixo leste/oeste da Eurásia em relação ao eixo norte/sul da América e da África. Uma característica da disseminação que ocorreu no eixo leste/oeste é a expansão de culturas “fundadoras” poupando o trabalho de serem “domesticadas” em outras regiões. Fato que não se constatou por exemplo com o algodão cultivado na América do Sul e do Norte, que eram geneticamente diferentes em cada região. Da Grécia, passando pelo Egito e chegando na Inglaterra temos basicamente o mesmo conjunto de plantas e animais domesticados e disseminados a partir da região conhecida como “crescente fértil”. O clima basicamente semelhante favoreceu a expansão das culturas. Descobriu-se, por exemplo, que cereais originários da região do crescente fértil floresciam na Irlanda e na costa do pacífico do Japão, regiões separadas por cerca de 13.000 quilômetros, na época de Cristo. A disseminação da escrita, da ordenha de animais, da produção de vinhos, da metalurgia rudimentar e o uso da roda seguiram de certa forma este mesmo trajeto no período aproximado entre 8.000 a.C. e 2.500 a.C. e vieram a reboque da expansão da produção de alimentos.

Nota 11 (08/11/2023) Apesar da importância vital da domesticação e da produção de alimentos em quantidades acima das que eram necessárias para a subsistência própria, que gerava excessos e por consequência alimentava outras pessoas, não foi apenas essa produção em excesso que deu superioridade aos agricultores em relação aos caçadores-coletores. Mais pessoas implicava na existência de mais interação (alfabetização), centralização das decisões (política) e melhor tecnologia (equipamentos agrícolas e armas). No entanto, nem todas as consequências do processo de domesticação foram positivas. Boa parte das doenças que nos atacam até hoje, na primeira etapa, tiveram origem nos animais domesticados, no uso de fezes como adubo e na permanência das pessoas no mesmo lugar. Com o tempo e novamente lembrando Darwin os micróbios evoluíram numa espécie de “seleção natural” que envolve uma adaptação ao meio para que pudessem se reproduzir, e com isso atingiram a segunda etapa, passaram a se propagar entre os humanos, não necessitando dos animais para se propagar. A gripe que hoje se transmite entre os próprios humanos veio de porcos e patos. Sarampo, tuberculose e varíola tem origem ancestral no gado. Essa “esperteza” dos germes tem dois lados. Se por um lado ele precisa se “alimentar” do hospedeiro também tem que se adaptar para não dizimar seu hospedeiro em pouco tempo a ponto de evitar que ele se reproduza. Esse processo é lento, mas já estava consolidado quando os colonizadores trouxeram os germes “europeus” e contaminaram os americanos nativos que não tinham anticorpos. Numa primeira etapa o ataque dos germes contra populações despreparadas, que ainda não desenvolveram anticorpos é mais devastador, chegando a dizimar 90% e até mesmo populações inteiras em alguns lugares do planeta durante o processo de colonização. Esse é um dos motivos, por exemplo, pelo qual povos como os Incas, que existiam em quantidades muito maiores do que os conquistadores espanhóis acabaram sendo subjugados por algumas centenas de soldados e cavalos portando armas e estratégias mais “tecnológicas” junto com alguns germes.

Nota 12 (09/11/2023) Além da domesticação das plantas e dos animais e por consequência da formação de agrupamentos populacionais mais densos outro fator também contribuiu de forma significativa para o surgimento de impérios. Foi o aperfeiçoamento da comunicação, caracterizado especialmente pelo surgimento da escrita, dos mapas (mesmo rudimentares), dos relatos escritos e das ordens escritas que ajudaram os povos colonizadores no processo de expansão e conquista. No processo de evolução humana a escrita foi um instrumento de poder que permitiu a disseminação do conhecimento de forma mais precisa e alcançando lugares mais distantes. O surgimento da escrita meio que traçou uma linha separando bárbaros e civilizados. A escrita nasceu basicamente da tentativa de representação de “coisas” por meio de símbolos (logogramas, exemplo: % = porcentagem) evoluindo para a representação dos sons da fala para símbolos simplificados (alfabeto, exemplo: a, b, c, d, etc.). Criar uma escrita do zero não foi uma tarefa fácil e sem dúvida copiar um sistema já criado facilitou muito a vida dos que se dedicaram a esta tarefa ao longo do tempo. Sumérios e Egípcios cerca de 3.000 a.C., os Chineses 1.300 a.C. e os índios Mexicanos 600 a.C. são considerados criadores originários de escrita, os demais copiaram, adaptaram ou se inspiraram nelas. Além da criação dos símbolos os Sumérios adotaram convenções que usamos até hoje, como escrever os símbolos em linhas ou colunas que deveriam ser lidas da esquerda para a direita e de cima para baixo respectivamente, como fazemos até hoje. Outro fator que existe desde a invenção da escrita foi a forma usada para disseminar o ensino dos símbolos numa sequência predeterminada, que também é usado até hoje: a, b, c, d, e, f … etc. Esse processo evolutivo durou várias centenas de anos e foram sendo adaptados para pronúncias particulares em diferentes regiões e povos. Um fato que pode ter ajudado na homogeneização do uso dos mesmos símbolos de forma contínua foi o acesso restrito a escrita nos primórdios da sua criação aos escribas a serviço de comerciantes e governantes. A escrita nasceu dos povos agrícolas, da vida estruturada com excedente de alimentos que mantinham especialistas fazendo política e construindo equipamentos. Já os caçadores-coletores não tinham necessidade da escrita.

Nota 13 (10/11/2023). Basicamente a necessidade é a mãe de todas as invenções. Elas surgem para atender necessidades. É claro que em algum momento da linha do tempo alguém deu a largada para a criação de um invento. Sabe-se, no entanto, que boa parte das invenções e seus inventores aperfeiçoaram, adaptaram ou se inspiraram em outras coisas já existentes. O amadurecimento da sociedade que de alguma forma foi capaz de incorporar o invento ao seu dia a dia é outro fator, caso contrário o invento acaba ficando esquecido. A tecnologia não evoluiu por causa de criações isoladas que do nada se transformam em inventos altamente úteis e usados pela sociedade. Outro aspecto dos inventos é que muitas vezes a sua utilidade vai sendo descoberta ao longo do tempo e algumas vezes acaba sendo usada para finalidades para as quais não foram inicialmente previstas. Em 1877 Tomas Edison inventou o fonógrafo e sugeriu 10 usos para seu invento, uma delas seria gravar livros para deficientes visuais. Quando surgiu a vitrola automática que funcionava com moedas Edison não gostou e somente 20 anos depois admitiu que gravar e reproduzir músicas era a principal utilidade do fonógrafo. Mesmo dentro do mesmo continente o desenvolvimento e a aceitação de novas tecnologias variam de uma sociedade para outra e também ao longo do tempo. Até 1450 a China era tecnologicamente mais avançada do que a Europa. Foi lá que surgiram, por exemplo: a pólvora, o ferro fundido, o papel, a porcelana, a impressão, a bússola magnética e o carrinho de mão. Mesmo dentro do mesmo continente a existência de sociedades conservadoras e inovadoras que pode se alternar. Até a idade média a Europa ocidental era mais “atrasada” em relação a região dos Árabes, Persas e Chineses.
Um dos processos pelos quais as novas tecnologias se difundiram é o mais simples de todos. Através do contato. Se um povo nunca viu uma roda e vê um povo vizinho usando rodas logo perceberá que aquele objeto redondo é muito interessante além de ser fácil de ser replicado. Pensando em termos de domínio e conquista, ou você incorpora e aprende a usar novas tecnologias ou pode acabar sendo dominado pelo rival que usa novas tecnologias.
Estima-se que entre 100.000 e 50.000 anos atrás o ser humano desenvolveu a fala e algumas funções cerebrais “modernas”. Com isso as ferramentas usadas até então que eram simples pedaços de ossos evoluíram para ferramentas “criadas” a partir de pedras trabalhadas e o uso combinado delas. Cerca de 13.000 anos atrás, em algumas regiões, o ser humano conheceu o sedentarismo, principalmente por causa da domesticação de animais e da produção de alimentos, fixando-se num lugar ao invés de movimentar-se continuamente. O sedentarismo propiciou a posse de utensílios que não precisavam ser movidos (primórdios do processo de acumulação de bens, enquanto caçadores e coletores carregavam apenas o essencial para sobreviver) e do exercício de atividades especializadas e que não estavam ligadas a obtenção de alimentos, cujo excesso podia ser armazenado e distribuído para estes especialistas. Esses fatores conjugados deram vantagens competitivas importantes para os sedentários em relação aos caçadores-coletores. Outro fator que ajudou bastante no processo de expansão foram as poucas barreiras geográficas e climáticas. Estas características geográficas existem na região da Eurásia. A África que está ligada geograficamente com a Eurásia tinha uma enorme barreira, o deserto do Saara. A América tinha um oceano separando os dois continentes. O fator que favoreceu o maior desenvolvimento dos Eurasianos em relação aos Americanos e Africanos foram os fatores geográficos, climáticos e populacionais (mais concorrência e rivalidade). Nada tem a ver com uma maior capacidade intelectual dos habitantes de cada continente.

Nota 14 (13/11/2023) – Tal como ainda vivem alguns animais, nossos antepassados também começaram sua jornada vivendo em bandos, geralmente formados por integrantes com algum tipo de parentesco. O passo seguinte veio com a formação das tribos, geralmente resultantes do agrupamento de outros bandos conquistados ou convencidos. No estágio inicial, mesmo com uma população relativamente maior, ainda não existia uma espécie de chefe nos bandos e nas tribos. Nesta etapa alguém até poderia se destacar entre os demais por características de liderança e carisma, todavia vivia e trabalhava como os outros. E já nesta época as pessoas tinham crenças no sobrenatural (coisas que aconteciam e não eram compreendidas como parte da natureza). Dentro desse modelo que agrupava muito mais pessoas em torno de um mesmo local surgiu uma espécie de “fio invisível” hoje chamado de religião, outro importante aspecto que alavancou as conquistas dos sedentários sobre os nômades. Ao longo do tempo, com raras exceções, a religião está presente como justificativa e motivação para a dominação de outras tribos (considerados infiéis). Na medida em que os aglomerados de pessoas foram crescendo a necessidade de organização política aumentava. Nos primórdios, quando duas pessoas desconhecidas se encontravam, as chances de um matar o outro era praticamente certa. Apenas parentes vivendo em bandos não se matavam. Com o agrupamento dos bandos em forma de tribos e por consequência da junção de grupos sem parentesco surgiu a necessidade de “administrar” e controlar a vida em grupo, de pessoas sem parentesco. Geralmente agregadas com costumes e línguas diferentes. Nesse contexto a religião tem um papel de destaque incutindo nas pessoas que não eram do mesmo grupo familiar, mas que viviam agrupadas, uma afinidade “religiosa”, uma espécie de fio invisível geralmente disseminada por alguém, que em muitos períodos também fazia o papel de divindade.

A vida “econômica” nas tribos consistia basicamente na troca de produtos entre as pessoas. Eu te dou isso e você me dá aquilo. O próximo passo dessa evolução criou a figura do chefe que recebia todos os “presentes” e depois os redistribuía entre os membros da tribo. Nessa altura os chefes já tinham algum tipo de distinção, uma roupa mais trabalhada, um lar mais sofisticado, um ou mais “ajudantes” (escravos) etc.

Quatro pontos teriam sido essenciais para transformar a vida a partir dos bandos que se matavam, passando pela convivência em tribos se tolerando até chegarmos nas bases de um estado, tal como conhecemos hoje: 1) controlar as armas desarmando a maioria das pessoas e deixando apenas uma parte da elite com acesso a elas; 2) usar o monopólio da força para garantir a ordem controlando a violência; 3) redistribuir para o povo os produtos em excesso que o líder do grupo recebia (processo que evoluiu para a cobrança de impostos para manutenção de uma estrutura estatal burocrática que devolve parte disso em forma de obras que beneficiam todos); e 4) criar uma ideologia com bases religiosas que justificasse a manutenção e continuidade daquele modo de vida. O quarto ponto contribuiu de forma significativa para a vida em grupo de tribos diferentes criando afinidade baseada na crença, superando a afinidade baseada no parentesco. Esse tipo de afinidade também construiu a base para fazer com que uns lutassem e morressem para defender seu grupo mesmo que elas não sejam seus parentes, em prol de um benefício maior como a conquista e o domínio de outras tribos. O fato central é que a maior densidade populacional foi um fator decisivo no processo de evolução.

Nota 15 (16/11/2023) – Há 40.000 anos os nativos Australianos eram considerados mais desenvolvidos do que os habitantes das regiões Europeias. Já usavam ferramentas feitas com cabos e pedras trabalhadas e navegavam em embarcações. Viviam em aldeias permanentes (em sociedade), frequentemente comandadas por um homem-grande (líder, chefe etc.). Alguns construíam casas de culto grandes e cheias de adornos. Sua arte foi notável, suas esculturas e máscaras de madeira expostas em museus são admiradas. Todavia, em um século de colonização Europeia, tudo isso praticamente foi varrido do mapa. Novamente fica a pergunta, porque os Australianos não conquistaram e colonizaram os outros continentes? O isolamento do continente, o clima hostil e as dificuldades na produção de alimentos impediram o crescimento populacional. Na Eurásia o clima e a geografia facilitaram a transformação de nômades em sedentários com domesticação de plantas e animais e produção de alimentos em escala. Mais alimentos traz aumento da população, mais competição e disseminação das inovações que surgem quando há mais mentes criando coisas. Mas nem só as inovações (escrita, tecnologia, organização política, animais domesticados etc.) foram disseminadas, junto com tudo isso vieram os germes que exterminaram os povos locais das Américas ou da Austrália, quando não eram exterminados pela matança. Em resumo a geografia teve um papel fundamental na expansão humana. Relembrando, a Austrália é um continente separado pelo mar. Na Eurásia, é possível sair de Portugal e chegar na China.

Obs.: faltam mais 5 notas (cerca de 70 páginas). Para não extrapolar o limite de caracteres de uma postagem vamos postar as demais como respostas e não dentro desta postagem.

Quando falamos em geopolítica sempre vale a pena dar uma olhada no PIB – Produto Interno Bruto que, em resumo, é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos ou prestados por um país, geralmente apurado no período de um ano. Em inglês a sigla é GDP – Gross Domestic Product. Com base em dados do Banco Mundial o canal VGraphs mostra a evolução dos 20 maiores PIB’s mês a mês a partir de 1961, e a partir de 2023, projeta o ranking até 2028. Vale lembrar que União Soviética era formado por vários países que depois acabaram se separando. O único país que não troca de posição ao longo destes anos é o líder, Estados Unidos, sempre na dianteira. Daí para baixo a troca é constante. Também registro que no início do levantamento existiam duas Alemanhas, a do Leste e a do Oeste ou a socialista e capitalista.

No início de 1961 e a cada 10 anos temos alguns destaques:

Em 1961 o Brasil ocupava a 15.ª posição perdendo para a Argentina na 11.ª posição. A Coreia do Sul, terra da Samsung, LG, Hyundai etc. nem aparecia no ranking. China estava na 5.ª posição e a Índia ocupava a 9.ª posição.

Em 1971 o Brasil ocupava a 12.ª posição logo depois da Índia em 11.º, na frente da Espanha e a Argentina tinha caído para a 18.ª posição.

Em 1981 vemos uma coisa interessante. Brasil e Argentina trocaram de lugar. A Argentina ocupava a 12.ª posição e o Brasil foi ocupar o lugar da Argentina em 18.º lugar. A Índia estava em 13 logo atrás dos Hermanos. A Coreia do Sul ainda não aparecia no ranking.

Em 1991 o Brasil reaparece perto da posição que ocupava 20 anos atrás (1971) ocupando a 11.ª posição, atrás do Irã (curiosamente um país que desde 1979 já sofria sanções econômicas por causa do programa nuclear). Outro ponto, a China estava atrás do Brasil em 12.º, a Índia estava em 16.º e agora temos a Coreia do Sul em 18.º, posição que o Brasil ocupava 10 anos antes.

Em 2001 destacamos o 3.º lugar ocupado pela Alemanha, que tinha se reunificado em 1990. A China já aparece em 6.º lugar o Brasil aparece em 10.º depois do México e antes da Espanha, mas o interessante é que a Coreia do Sul aparece em 12º seguido pela Índia em 13.º com a Argentina voltando ao 18.º posto no ranking.

Em 2011 a China empurrou o Japão para a 3.ª posição ocupando o posto de 2.ª lugar. Numa das melhores fotografias para o Brasil ocupamos a 7.ª posição com a Índia em 9.º lugar. Em 14.º e 15º aparecem respectivamente Coréia do Sul e México. Começando a pôr o pé no ranking aparece a Indonésia em 18.º. A Argentina não aparece nem entre os 20 maiores PIB’s neste ano.

Em 2021 a Índia já ocupa a 6ª posição no início do ano, mas durante o ano pula para a 5.ª posição, a Coreia do Sul está em 10.º lugar, o Brasil em 12.º, o México em 15.º e logo em seguida vemos a Indonésia.

Com base nos dados do Banco Mundial, para 2028 a projeção indica que a China deverá estar na 2.ª posição e a 3.ª posição deverá estar sendo ocupada pela Índia. O Brasil continua patinando ali na 8.ª posição. México aparece em 11.º seguido pela Coreia do Sul em 12.º e novamente projeta-se a Indonésia avançando e ocupando a 13.ª posição. A Argentina continua de fora do ranking projetado dos 20 maiores PIB’s.

Em termos geopolíticos, ao longo dos anos, o ranking dos maiores PIB’s é ocupado por países da Eurásia. As exceções além dos EUA que sempre estiveram na liderança são: Brasil, Austrália e México. Certamente temos países em situações muito ruins dentro da Eurásia, como Afeganistão, Iêmen e Coréia do Norte, mas cada um tem seus pontos particulares de atenção que não é objeto por aqui.

Link para o canal VGraphs:

1 curtida

Estamos tratando especificamente de um espaço geográfico chamado de Eurasia. Para não ficar perdido o mapa da Eurasia tem 90 países, 43 da Europa e 47 da Ásia.


Print parcial retirado em 24/10/2023 de: https://socientifica.com.br/enciclopedia/eurasia/

Mapa da região conhecida como berço da civilização e de crescente fértil:

Crescente fértil
Print parcial retirado em 01/11/23 de: Crescente Fértil – Wikipédia, a enciclopédia livre

Os eixos continentais:


Imagem parcial retirada do livro Armas, Germes e Aço - pág 123.

Na nossa Nota 12 (09/11/2023) o tema é o surgimento da escrita e sua importância para a evolução humana. A título de curiosidade existe um livrou também conhecido como código ou manuscrito que desperta curiosidade e nem mesmo o uso da Inteligência Artificial ajudou a decifrar o que está escrito nele até o momento, o código ou manuscrito voynich.

Um bom exemplo de cópia de um sistema de escrita pode ser constatada na escrita Japonesa que foi copiada da Chinesa. Na imagem abaixo podemos ver algumas formas mais antigas de escrita da palavra “chuva” em chinês e a forma como ela é escrita atualmente em japonês e em chinês, mudando apenas a pronúncia. Também é possível perceber como os logogramas eram criados tentando “descrever” o objeto ou no caso da chuva um fenômeno.


Imagem criada a partir de “prints” parciais extraídos em 09/11/2023 de: 雨 - Wiktionary, the free dictionary e de: https://translate.google.com.br/?hl=pt-BR&sl=auto&tl=zh-CN&text=chuva&op=translate

A propósito, a escrita chinesa (Mandarim) ainda é basicamente feita com logogramas, que atualmente são chamados de ideogramas (traços que representam uma palavra ou até mesmo frases curtas). Neve, neve caindo e ter aparência de neve é escrito com o mesmo ideograma.


Imagem parcial extraída em 09/11/2023 de: 雪 meaning - Chinese-English Dictionary

Já a escrita japonesa evoluiu para um misto de logograma (kanji) com alfabeto (hiragana). Na escrita de uma frase se misturam os dois tipos. Como exemplo, no caso da palavra sonho o primeiro símbolo é “yu” e o segundo é “me” em hiragana e com apenas um ideograma e vários traços em kanji.

Yume em japonês
Prints parciais extraídos em 09/11/2023 de: O Alfabeto Japonês. Características do Alfabeto Japonês

O livro traça um linha partindo dos primórdios da humanidade e o autor assume que a origem do homem, do ponto de vista evolutivo e científico, tem origem na África. Estudos recentes onde até pesquisadores brasileiros aparecem com suas pesquisas, a história da origem humana pode ter que ser reescrita. Abaixo dois momentos exibidos pela TV Cultura de SP num espaço de 6 anos (2017 e 2023) sobre este tema. O programa exibido neste ano é onde talvez esteja nascendo a nova teoria sobre a nossa origem não ter sido exatamente na África.

Matéria de Capa: A Longa Caminhada - exibido originalmente em 21/10/2017.

Matéria de Capa: A Origem do Homem - Novas Descobertas - exibido originalmente em 17/09/2023.

Obs.: continuação das notas:

Nota 16 (19/11/2023) – Sabe-se que a China foi um dos primeiros locais onde animais e plantas foram domesticados, os registros destes eventos remetem aproximadamente a 7.500 a.C. A produção de alimentos alavancou o desenvolvimento dos povos Eurasianos ocidentais da região conhecida como “Crescente Fértil”, e não foi diferente na região Asiática, especialmente na China. Mais alimentos significava aumento da população e por consequência mais mentes podendo criar. A origem da pólvora na China é conhecida. Existem registros da existência da escrita na China do segundo milênio antes de Cristo, estimando-se que já existia antes dessa época. Cidades fortificadas e cercadas por muralhas e existência de cemitérios remontam ao período do terceiro milênio antes de Cristo, denotando a existência de algum tipo de sociedade organizada e estruturada politicamente, com mão de obra disponível para executar obras de natureza coletiva. Atribui-se aos porcos um dos tipos de gripe e como possivelmente os Chineses foram os pioneiros na domesticação destes animais estima-se que esta variante da gripe surgiu originalmente por lá. O que dá uma ideia de como o processo de desenvolvimento teve seu lado ruim, levava o conhecimento e junto seguiam os germes chegando onde não existiam. Um fator importante no processo de expansão é a existência de rios navegáveis. A existência de dois grandes rios, o Amarelo no norte e o Yantze no sul, que cortam a China no sentido leste-oeste com canais interligando os dois e uma geografia relativamente favorável colaborou no processo de expansão e consolidação tanto no sentido norte-sul como no sentido litoral-interior. A língua Chinesa atual basicamente é a mesma que surgiu na região norte e depois foi se espalhando e substituindo os dialetos locais. No ano 221 a.C. a China já estava politicamente unificada, sob a dinastia Qin. Estima-se que haviam povos de pele escura e com cabelos encaracolados no Ásia antiga e possivelmente vivendo como nômades. Estes povos acabaram sendo dominados pelos Chineses de pele clara e cabelos lisos, sendo mais agressivos, tecnologicamente mais preparados, politicamente organizados e principalmente com vantagem populacional que ao longo do tempo vai impondo seus traços genéticos. Mesmo locais mais distantes como a Coréia ou separados pelo mar como o Japão sofreram influências na escrita, no cultivo do arroz e na metalurgia. Todo esse predomínio da China oriental sobre o resto da região asiática chegando até o Japão foi fruto da domesticação de animais e plantas junto com o aperfeiçoamento da escrita e a sua disseminação, sendo a imposição da escrita um importante fator de unificação cultural.

Nota 17 (22/11/2023) – Além das características físicas de um povo, outro fator que ajuda a traçar uma linha do tempo ao longo da história é a língua. Basicamente a China tem 8 línguas dominantes enquanto isso nas Filipinas e na Indonésia a quantidade é muito maior. Entre outras conclusões, uma delas indica que estes dois países não passaram por um processo de estruturação política e cultural, ao contrário da China. A expansão da língua também reflete a forma como os povos antigos foram se movendo pelo globo, qual direção seguiram ou de onde vieram seus ancestrais. O caso mais recente visto na região ocorreu por volta de 1945 na ilha de Taiwan, até então ocupada em sua maioria por aborígenes. Com a ascensão do comunismo que culminou em 1949 com a fuga dos opositores do regime de Mao para a ilha de Taiwan a ilha se tornou em pouco tempo uma região dominada pelos chineses, com sua língua, costumes, características físicas etc. Ferramentas de pedra polida e artefatos decorativos de cerâmica encontrados na ilha datam do quarto milênio antes de Cristo. Com base em artefatos arqueológicos estima-se que 6.000 anos atrás habitantes da ilha de Taiwan cultivavam alimentos, produziam peças de cerâmica sabiam se orientar no mar. O domínio da agricultura, da navegação pelo mar e o polimento de pedras levou os povos do sul da China para Taiwan e posteriormente para a ocupação das Filipinas e da Indonésia ocidental e central, até então habitada por caçadores-coletores. Essa expansão atingiu praticamente todas as ilhas habitáveis da região indo da Nova Zelândia ao sul até o Havaí na altura do México. Os chineses do norte se expandiram para o sul. Os chineses do sul se expandiram pelas diversas ilhas da região. Basicamente essa expansão foi impulsionada pelo domínio da produção de alimentos, maior população, domínio de uma tecnologia baseada em polimento de pedras e construção de barcos capazes de navegar no mar (onde tem ondas) e sabedoria para não se perder. Mas nem tudo são flores, pelo contrário, com a chegada dessa gente trazendo cães, porcos, galinhas e cultivo de alimentos também vieram os germes para contaminar os povos locais. Os caçadores coletores que resistiam, além de estarem em menor quantidade, ainda enfrentavam armas melhores e quantidades maiores de inimigos mais treinados, bem alimentados e organizados. No resto de boa parte da região asiática o processo de expansão basicamente repetiu o mesmo roteiro de outras regiões. A Austrália é considerada uma exceção por causa das condições climáticas e geográficas altamente hostis.

Nota 18 (04/12/2023) – Colombo “descobriu” a América em 1492, época em que os povos agricultores já eram maioria na Eurásia ao contrário dos povos Ameríndios, que em sua maioria ainda eram caçadores coletores. Lá no passado remoto existiam animais de grande porte nas Américas, no entanto a maioria foi extinta na era batizada de pleistoceno (período de 2.5 milhão a 11.7 mil anos atrás). Essa extinção ocorreu em menor grau na Eurásia e contribuiu para o fato da grande maioria dos animais terem sido domesticados nessa região. Os animais menores como cães, gatos, galinhas e porcos não se equiparam com a domesticação de animais maiores como gado e cavalo para arar terras ou puxar carroça. A diferença tecnológica era “brutal”. Um lado se defendia a pé com paus, lanças e pedras contra os conquistadores que chegavam com espadas, lanças e armaduras de metal, alguns montados em cavalos. Os romanos (27 a.C. até 476) já dominavam o uso da roda hidráulica. Moinhos e cata ventos surgiram na idade média (anos 476 a 1453). Nas Américas, entre os poucos produtores de alimentos, tudo dependia da força humana. No ciclo da evolução a vantagem que povos melhor alimentados levaram em relação aos que consumiam alimentos menos ricos em proteínas foi brutal. Além disso os colonizadores do velho mundo dominavam “tecnologias” como construção de barcos grandes equipados com bússola, leme, velas e canhões para navegar em mar aberto percorrendo longas distâncias. Parte da população Eurasiana já dominava a escrita contra um sistema rudimentar dominado por uma pequena elite na região da América Central. Eurasianos eram estruturados politicamente, traziam germes para os quais os habitantes do novo mundo ainda não tinham desenvolvido resistência e tinham motivações incutidas por questões religiosas, geralmente havia um religioso nas expedições. Ao contrário dos Eurasianos, as poucas regiões mais densamente habitadas das Américas, como os Andes por exemplo, não desenvolveram atividades comerciais em larga escala com aglomerados de habitantes de outras regiões, servindo como uma espécie de barreira para a transmissão dos germes. Até mesmo a malária que é típica de países com clima tropical (possivelmente de origem Africana) teria sido trazida para as Américas pelos colonizadores. Estima-se que já haviam humanos vivendo primitivamente na região da Eurásia há cerca de 1 milhão de anos. Estudos arqueológicos indicam que os primeiros humanos que pisaram nas Américas datam de 12.000 a.C. entrando pelo Alasca. Outra estimativa indica uma diferença de cerca de 5.000 anos entre o início da produção de alimentos na Eurásia e nas Américas, sendo que a diversidade de animais e plantas nas Américas era bem menor. Além disso, questões geográficas e climáticas dificultaram a ocupação geográfica (sentido norte-sul), fato que facilitou a expansão geográfica da Eurásia (leste-oeste). A pouca variedade e quantidade de plantas e de animais na região leste dos Estados Unidos e a existência de florestas tropicais também dificultaram a expansão. Os colonizadores descobriram a América em 1492 e instalaram a primeira colônia por volta de 1508. Entre os anos de 1519-1520 e 1532-1533 conquistaram respectivamente e com relativa facilidade os dois grandes impérios estruturados das Américas, os Astecas e os Incas. Esse é basicamente o retrato da fase final de expansão e colonização do mundo que deu seus primeiros passos na região do crescente fértil quando caçadores coletores passaram a se estabelecer em locais fixos, iniciaram a domesticação de animais, cultivo de alimentos e passaram a viver em grupos formados por pessoas que não eram parentes. Um dos resultados mais visíveis dessa dominação do novo mundo pelo velho mundo nesse processo de colonização é a origem da língua falada nas Américas (inglesa e francesa no Canadá, inglesa nos EUA, Espanhol em boa parte da América Central e do Sul e o português no Brasil). A língua dos antigos habitantes Ameríndios, Incas ou Astecas praticamente sumiu do cotidiano.

Nota 19 (06/12/2023) – A África é um continente ímpar, basicamente uma região de clima temperado, com desertos secos, grandes florestas tropicais, com as montanhas equatoriais muito altas e até onde se sabe, o lugar onde se encontram os vestígios mais antigos de ocupação humana, estimados em cerca de 7 milhões de anos. Também é na África que se encontram as origens das principais etnias popularmente conhecidas ao redor do mundo: negros, brancos, pigmeus africanos, coissãs e asiáticos. No continente, entre os animais registra-se apenas uma espécie domesticada, a galinha d’angola. As demais teriam vindo de fora, ou seja, chegaram domesticados apesar da existência de grande quantidade de candidatos (exemplos: zebras, gnus, rinocerontes, hipopótamos, girafas e búfalos). Um caso marcante de expansão que ocorreu no continente africano partiu da região da África subsaariana e chegou até a região conhecida hoje como África do Sul. Como base unificadora amparando esse avanço havia a língua banto, o domínio da produção de ferramentas de metal e o cultivo de plantas de clima úmido. Se a origem dos povos africanos é reconhecidamente mais antiga do que a dos outros continentes por qual ou quais motivos não foram os africanos que ocuparam e colonizaram os outros continentes como a América ou a Eurásia? Uma das respostas é a questão já levantada do eixo de cada continente. O que é basicamente parecido no eixo leste-oeste da Eurásia é praticamente diferente no eixo norte-sul Africano (clima, habitat, chuvas, duração do dia e doenças de plantas e de animais etc.) Apesar do continente ter visto um grande reinado Egípcio, por exemplo, não houve expansão para o sul, entre outros fatores barrado pelo deserto do Saara. Outro fator é o geográfico que também pode ser chamado de sorte. Enquanto diversas plantas e animais que poderiam ser domesticados existiam na Eurásia praticamente nenhum animal e planta, com raras exceções estavam no continente Africano (exemplo: café na Etiópia). Durante muito tempo grande parte dos povos africanos se dedicaram a caça, pesca e coleta de plantas vivendo em pequenos grupos. O resultado disso é a existência de milhares de línguas. Mais alimentos, mais pessoas dedicadas especificamente para atividades inventivas, militares ou políticas resultaram em maior crescimento populacional e como num efeito bola de neve mais gente implicava em mais inventos, maior grau de evolução e organização social e política. Em resumo as diferenças de trajetória de um continente e de outro estão no que cada continente tinha para oferecer aos seus povos para que cada um evoluísse mais ou menos. Não havia um oceano separando a África da Eurásia, mas havia um deserto. Não tem a ver especificamente com o povo e sua capacidade, tem a ver com o que cada um tinha à disposição favorávelmente na natureza para evoluir combinado com os obstáculos desfavoráveis e já citados como desertos, clima, florestas tropicais, animais de difícil domesticação etc.

Nota 20 (07/12/2023) - Cada continente tem as suas próprias características. O ambiente e os recursos que cada continente dispõe foram pontos centrais da evolução humana. Maior variedade de plantas e animais domesticáveis favoreceram a fixação de pessoas num local ao mesmo tempo em que mais alimentos resultava em crescimento populacional, especialização de tarefas, melhor organização social, distribuição de tarefas e vantagens competitivas nas lutas contra grupos rivais contando com mais soldados, mais tecnologia e mais organização. Dentre os continentes a Eurásia foi abençoada com seu tamanho e largura no sentido leste-oeste, sua geografia, com maior quantidade de plantas e animais domesticáveis e com fatores como clima e obstáculos mais transponíveis do que nos outros continentes, separados até por oceanos. Com essas condições favoráveis a população cresceu de forma mais acelerada. Mais gente significa mais inventores, mais exploradores, mais soldados e por consequência expansão e dominação de outros povos. Apesar de ser o berço da domesticação de animais, das plantas, dos inventos e da mudança do modo de vida baseado na caça e coleta para uma vida sedentária a região do Crescente Fértil acabou perdendo essa vantagem inicial. Impérios como o Persa e a Babilônia ficaram pelo caminho. O “azar” da região, entre outras coisas, se deveu à falta de chuvas e ao desmatamento para plantio e pastagem de animais que resultaram nas atuais terras desertificadas. A tecnologia de cultivo e criação de animais além de outros conhecimentos como a escrita migraram para a região europeia onde as chuvas eram mais abundantes e impediu o processo de desertificação. Esses europeus se desenvolveram com a tecnologia vinda do Crescente Fértil e por volta dos anos 1.500 se expandiram, conquistaram e colonizaram outros continentes. Por muito pouco essa expansão, conquista e colonização não ocorreu a partir da China medieval. Líder mundial em tecnologia naquela época sendo ponto de origem do ferro fundido, da bússola, da pólvora, do papel, da imprensa, da navegação em mar aberto, da construção de embarcações com até 120 metros e dominando a navegação pelo oceano Índico os Chineses chegaram até a costa Africana entre os anos de 1.405 a 1.433, décadas antes de Colombo. Faltou cruzar o cabo da boa esperança e subir em direção a Europa para conquistá-la e colonizá-la. Uma disputa política entre duas facções que acabou com a derrota do lado que comandava a construção e uso dos grandes barcos. A derrota resultou no fim imediato das expedições e a médio prazo na perda do know-how tanto da construção como da navegação. Se por um lado a vitória de um grupo unificou a China sob um governo central a Europa estava dividida em vários reinados. Havia cerca de 500 estados independentes na Europa em 1.500, atualmente são cerca de 40. Cada um com suas línguas e culturas próprias, entrando em guerra de tempos em tempos. Colombo batia nas portas de centenas de castelos até conseguir patrocínio para suas expedições. Conquistadores como Napoleão e Hitler não conseguiram unificar a Europa em momentos diferentes enquanto isso a China se mantém unificada, mantendo uma língua principal há muito tempo. Vários estados com povos concorrendo e até mesmo entrando em guerra alavancaram o desenvolvimento da Europa. Se um povo descobria uma inovação e ganhava alguma vantagem os outros tinham que se coçar e copiar ou criar outra melhor. Já a China dependia da vontade um governo central que poderia ser reticente aos avanços tecnológicos, como ocorreu com o bloqueio da adoção de inovações durante domínio de alguns imperadores e líderes. Sob qualquer ângulo o mundo moderno ainda vive sob o domínio dos Eurasianos, mesmo que seja um povo ocupando o continente americano, a origem desse povo ainda é na Eurásia.

Nota 21 (09/12/2023) - O livro chegou ao fim. Ao longo dos últimos dias e reconhecemos, sem a devida regularidade, fizemos uma espécie de “fichamento” à moda da casa, que acabou sendo um breve resumo de cada capítulo do livro, tentando extrair o ponto central de cada um deles, tomando o cuidado de não inserir uma visão pessoal do assunto tratado em cada capítulo. Agora encerramos com a minha visão pessoal. Sonhamos em viver num país com boa renda média, baixo índice de pobreza e condições sanitárias, educacionais e médicas de bom nível e o melhor dos mundos, tudo isso com um estado democrático e eficiente. A cereja do bolo seria poder andar, passear e viajar sem medo da violência, de todo e qualquer gênero e pagando impostos em níveis razoáveis para sustentar esse estado enxuto e receber os serviços básicos de volta. Existem muitas “teorias” que tentam explicar e/ou justificar os motivos que nos impedem de cruzarmos a fronteira do “quase” para ingressarmos no grupo dos países realmente desenvolvidos. Cada um que já gastou alguns minutos pensando no assunto tem os seus argumentos. Em cerca de 300 páginas e basicamente contando a história do mundo o autor, que é historiador e geógrafo, traça uma linha de pensamento onde expõe os motivos pelos quais o primeiro mundo é o primeiro e nós não somos. E vale ressaltar, o autor sempre deixa claro que não se trata de nada relacionado a maior capacidade genética de uma raça sobre a outra, pelo contrário, o que define e marca de forma inexorável a “sorte” ou “azar” de um país é a região onde ele está localizado e as condições de acesso mais fáceis ou difíceis. Estas condições de acesso vão da geografia com terrenos transponíveis, passando por rios e portos chegando até maior ou menor abertura dos mercados. Não é à toa que se listarmos os países mais desenvolvidos veremos que a maioria deles, senão todos, estão localizados no espaço geográfico conhecido como Eurásia, justamente o berço de praticamente todas as invenções, avanços e inovações que já foram criadas. Podem ter se movido da região da África do Norte, da Pérsia e da Arábia em direção a Europa mas continuam dentro da Eurásia. Todos os países tem seus problemas, China e Coreia do Sul tem seus problemas e estão em campos opostos do ponto de vista do sistema político. Mesmo assim ultrapassaram a barreira do “quase” e se tornaram países efetivamente desenvolvidos. Além disso contaram com a “sorte” de estarem na Eurásia e mantiveram o foco no longo prazo. Nós tivemos o “azar” de estarmos fora do eixo Eurasiano leste-oeste e o nosso foco, se é que temos é de curtíssimo prazo, não passa de 4 anos. Dependendo do resultado queremos desfazer tudo, renomear tudo, trocar tudo e gastamos tempo vendendo convicções erradas para quem já as tem de sobra.