IA - Inteligência Artifical pode ser mais uma bolha

Introdução

Guardadas todas as devidas proporções, até porque o hype da Inteligência Artificial certamente é muito maior e atinge um universo bem maior de empresas e pessoas, podemos puxar a sardinha para o lado de quem curte o universo cripto para dizer que é um processo que tem algumas semelhanças. Tanto o Bitcoin como as IA não vieram do nada e de repente se transformaram em assunto por todo lado. Esse é um lado que muitos não enxergam, não valorizam e inclusive não entendem bem, mas no fim do dia, todos querem surfar essa onda ou simplesmente usá-los sem se preocupar como surgiram ou como funcionam. Nos dois casos pesquisadores, sonhadores, visionários e uma grande maioria de “operários” no sentido intelectual se dedicaram e gastaram milhares de horas empurrando o processo até ele chegar nos dias atuais. Tentativas, erros, frustrações, pequenos avanços e finalmente, em algum momento a coisa aparentemente amadurece e chega até o público em geral. Afinal de contas, se não chegar no público em geral não haverá retorno dos investimentos feitos. Nos laboratórios da vida espalhados nos centros de pesquisa dos países mais envolvidos com a pesquisa e o desenvolvimento empresas e governos investiram (e ainda investem) no desenvolvimento da tecnologia e no aperfeiçoamento dos programas que trouxeram o processo ao atual estágio em que se encontram as IAs. O Bitcoin nada mais é do que um conjunto de outros processos que já estavam sendo estudados anteriormente. O grande mérito do criador do Bitcoin foi o de juntar as peças que estavam soltas para transformá-lo no que se tornou, fato que por si só não foi obra do acaso e tampouco simples. Foi um feito extraordinário. Outro aspecto que contribuiu de forma decisiva foram os avanços tecnológicos que, de certa forma, impediram o amadurecimento de uma moeda digital antes de 1990. Tentativas anteriores fracassaram principalmente por causa disso. Não é diferente no caso da IA. Um dos primeiros chatbots foi batizado de ELIZA e nasceu lá nos anos 60, de forma bem rudimentar já usando o LLMs (Large Language Models). Certamente a Eliza ficou restrito a um universo pequeno de pesquisadores. Podemos dizer que a Eliza é a precursora dos atuais ChatGPT e suas respectivas versões. De lá para cá, e tal como ocorreu com o Bitcoin, a evolução da capacidade de processamento permitiu a maturação do Bitcoin e está transformando a IA em realidade, em parte do nosso dia a dia. Ou seja, o que contribuiu de forma significativa para os dois processos foram duas pontas, de um lado o avanço tecnológico com a produção de equipamentos com maior capacidade de processamento e mais rápidos combinado com o amadurecimento/evolução dos programas que se beneficiam da disponibilidade dessa capacidade maior de processamento. Fica a dica, não basta construir o maior foguetão do mundo recheado de chips de última geração se não estiverem acompanhados de programas capazes de fazer tudo funcionar ou até mesmo programados para abortar um lançamento, se algo estiver errado. As duas coisas funcionam bem quando andam mais ou menos juntas, não muito distantes e um sempre acompanhando o outro.

Uma das pontas que se beneficiou com esse cenário e que atua no campo tecnológico é a Nvidia. Cerca de quatro anos atrás, em meados de julho de 2020, uma ação da Nvidia valia em torno de 10 dólares. No dia 11/07/2024 está quase batendo na casa dos 130 dólares. A empresa nasceu na Califórnia lá no longínquo ano de 1993 com objetivo de atuar no segmento de produção de GPU’s (Graphics Processing Unit , ou Unidade de Processamento Gráfico) focados em jogos e edição de vídeo. No auge da mineração pelo método PoW (Proof of Work ou prova de trabalho) as GPU’s foram amplamente usadas para mineração e mais recentemente nos data centers com foco em IA. Apesar de haver uma certa confusão com placa de vídeo, a GPU é um dos componentes de uma placa de vídeo podendo ser acoplado diretamente numa placa mãe, dependendo da finalidade. Sua função básica é realizar grande quantidade de cálculos de forma extremamente rápida. Ao se tornar a principal fornecedora de GPU’s focados em IA a Nvidia acabou se tornando a empresa mais valiosa do mundo com valor de mercado estimado em mais de 3 trilhões de dólares.
Nvidia preço
Print parcial retirado em 12 07 24 de: nvda stock - Pesquisa Google

Para além da Nvidia e dos seus GPU’s que a levaram ao topo do mundo pesquisadores da Goldman Sachs publicaram um relatório ouvindo pessoas céticas de um lado e otimistas do outro sobre o tema da Inteligência Artificial. Além das questões relacionadas aos altíssimos custos que estão sendo absorvidos pelo ecossistema das IA’s o relatório também aborda outras questões, mais especificamente relacionadas ao mercado americano, como o alto consumo de energia elétrica dos data centers, a malha de transmissão de energia envelhecida e a questão do gargalo na produção dos microchips entre outros aspectos. Demos uma lida e resolvemos compartilhar um resumo do relatório, que tem o sugestivo título de "GEN AI: TOO MUCH SPEND, TOO LITTLE BENEFIT? em tradução livre: “IA Generativa: Muito gasto para pouco retorno?”.

O foco dessa postagem será voltado essencialmente para o lado econômico das IAs e mais especialmente para um ponto que alguns analistas e especialistas estão tentando chamar a atenção da sociedade. É o caso, por exemplo, do Fabio Akita que tem uma visão cética sobre o futuro que talvez não seja tão dourado, espetacular e glamoroso desse ecossistema, como muitos pintam. Boa parte do tal mercado financeiro está levando o preço das ações da Nvidia a patamares nunca antes imaginados. Talvez ou será que possivelmente estamos diante de mais uma bolha que algum dia vai estourar? Vamos dar o nosso pitaco nesse tema a partir do relatório liberado pela Goldman Sachs (que também é conhecida pela sigla GS) para investidores, que trata exatamente desse assunto. O relatório contrapõe opinião de céticos e otimistas, lembrando que o relatório é voltado para investidores. O que a GS está dizendo aos investidores é que talvez não seja interessante colocar muita grana nesse negócio como investidor com medo de perder o bonde (sentimento de FOMO – Fear of missing out ou medo de ficar de fora). Nos próximos dias compartilharemos por aqui um modesto resumo da nossa leitura, separado por tópicos que serão postados na medida em que formos avançando na leitura do relatório, que está em inglês e dá um pouco mais de trabalho para quem não é fluente como é o meu caso, ainda mais quando se trata de assuntos específicos como economia e finanças.

Video do Fernando Ulrich conversando com o Fabio Akita sobre IA, Nvidia e outros assuntos.

Continua…

Para os apressados segue o link para o relatório original em PDF e em inglês:

O Relatório


Print parcial retirado em 12 07 24 de: https://www.goldmansachs.com/intelligence/pages/top-of-mind/generative-ai-hype-or-truly-transformative/report.pdf

De acordo com o site da Goldman Sachs a área de pesquisa (research) em tradução livre, tem como objetivo: “… fornecer opiniões e análises fundamentais (ou fundamentalistas) para clientes nos mercados de ações, renda fixa, câmbio e commodities”. No dia 25 de junho de 2024 a área de pesquisa publicou a edição n.º 129 do relatório “Top of Mind” que podemos rebatizar para algo como “Coisas para ficar de olho”. Logo abaixo fizemos uma tradução livre do texto em inglês que vemos na imagem acima. O texto é um resumo dos principais pontos trazidos pelo relatório. O negrito na tradução livre, na última frase é de nossa autoria.

Os gigantes da tecnologia Goldman Sachs Group, Inc. e outros deverão gastar mais de US$ 1 trilhão em investimentos em IA nos próximos anos, com poucos resultados obtidos até agora para apresentar. Pois é, esse grande gasto algum dia terá retorno? Daron Acemoglu do MIT e Jim Covello da GS estão céticos, com Acemoglu vendo apenas os EUA limitados a vantagem econômica da IA ​​durante a próxima década e Covello argumenta que a tecnologia não foi concebida para resolver os problemas complexos que justificariam os custos, que podem não diminuir como muitos esperam. Mas Joseph Briggs, Kash Rangan e Eric Sheridan da GS (Goldman Sachs) continuam mais otimistas quanto ao potencial econômico da IA ​​e à sua capacidade de gerar retornos para além da atual fase de “pás e picaretas”, mesmo que a “aplicação matadora” da IA ​​ainda não tenha surgido. E mesmo que isso aconteça, exploramos se a atual escassez de chips (com Toshiya Hari da GS) e a iminente escassez de energia (com Brian Janous da Cloverleaf Infrastructure) restringirão o crescimento da IA. Mas, apesar destas preocupações e restrições, ainda vemos espaço para o tema da IA ​​funcionar, quer porque a IA começa a cumprir a sua promessa, quer porque as bolhas demoram muito tempo a rebentar”.

Obs.: (GS = Goldman Sachs / MIT = Massachusetts Institute of Technology)

Um aspecto, dentre outros, do relatório é que ele procura expor duas correntes de pensamento que estão em lados opostos. Um lado, representado, por exemplo, pelo Prof. Daron Acemoglu do MIT se mostra cético enquanto outros estão bem mais otimistas com relação ao futuro das IA’s. Outro aspecto desse relatório é o foco na questão econômica das IA’s e não da tecnologia propriamente dita. O próprio título do relatório, com um ponto de interrogação, já põe essa questão na mesa: “GEN AI: TOO MUCH SPEND, TOO LITTLE BENEFIT? ”, que podemos traduzir livremente para algo mais ou menos como: “Inteligência Artificial Generativa: muitos gastos, poucos resultados”? A palavra spend em princípio remete a gasto, no sentido de consumir recursos. Neste caso, aparentemente encaixa melhor se for lido no sentido de alocação de recursos, ou investimentos. Por outro lado, talvez a palavra spend possa ter sido utilizada de forma um tanto quanto irônica, no sentido literal de gasto propriamente dito. Conforme aparece logo no início do trecho que traduzimos mais acima a estimativa é que cerca de 1 (um) trilhão de dólares sejam investidos especificamente em áreas relacionadas a inteligência artificial nos próximos anos. Em nossa moeda corrente isso equivale a quase 5.5 trilhões de Reais. Para termos uma ideia dessa proporção, de acordo com o site do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o PIB (Produto Interno Bruto, que é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, estado ou cidade, geralmente apurado no período de um ano) do Brasil no ano de 2023 foi de 10.9 trilhões de Reais e nos três primeiros meses de 2024 foi de 2.7 trilhões de Reais. Em resumo, é bastante dinheiro sendo alocado em IA.

Do lado cético desse ecossistema o prof. do MIT Daron Acemoglu estima que o impacto das IA’s na automação de tarefas que efetivamente se mostrarão rentáveis é de menos de 5% dentre as tarefas que poderão ser automatizadas no horizonte de 10 anos. Para ele os avanços não virão tão rapidamente e não serão espetaculares, como se vende por aí. O prof. estima que o ganho de produtividade nos EUA nos lugares ou atividades onde forem adotadas será da ordem de meros 0,5% e o impacto no PIB americano deverá ser inferior a 1% em 10 anos.

Jim covello, pesquisador e chefe da área de ações globais do GS é mais cético ainda. Ele alerta para a questão do GPU que pode ser um gargalo para adoção da IA em larga escala e por consequência para redução dos custos. Ele também alerta que eventuais vantagens obtidas por uma empresa logo poderão ser igualadas ou até superadas pela concorrência, fazendo com que eventuais ganhos acabem não sendo tão compensatórios. Ele também toca num ponto que se debate bastante: até que ponto sistemas treinados com base em dados históricos poderão se igualar ao conjunto de capacidades tão diversas encontradas nos seres humanos?

Na outra ponta desse cenário o economista da GS Joseph Briggs é mais otimista. Para ele cerca de 25% das tarefas serão automatizadas com uso de IA e isso deve gerar um aumento de cerca de 9% na produtividade e um reflexo positivo de 6.1% no PIB dos EUA nos próximos 10 anos. Ele reconhece que muitas tarefas que já podem ser automatizadas hoje ainda não são rentáveis, mas isso virá com o tempo e com o aumento na adoção das IA’s. Para Briggs o avanço das IA’s vai gerar realocação de mão de obra das que acabarem sendo extintas bem como a criação de novas tarefas.

Dentro do GS dois analistas, um de software (Kash Rangan) e outro de internet (Eric Sheridan) também são entusiastas e acreditam no potencial transformador da IA no longo prazo, e por consequência, nos retornos positivos dos investimentos nessa área. Ambos reconhecem que os valores alocados são significativos e que ainda não surgiu uma aplicação matadora.

Fora da questão otimista ou pessimista o relatório traz também um espaço para apresentar outras questões relativas e, no entanto, essenciais da cadeia de produção. Indo além do que os outros disseram até aqui, a equação ganha mais uma variável que é a preocupação quanto à questão da energia (consumida em larga escala pelos data centers e do envelhecimento da rede de transmissão no caso específico dos EUA). A pergunta que se faz é se haverá capacidade de fornecimento de energia para atender a grande demanda que vai existir. O aumento da instalação de novos data centers gerou um aumento na procura por energia. Não se descarta até uma crise caso não sejam feitas melhorias na infraestrutura do setor energético (nos EUA). Outro fator dessa equação que é dado como certo que será um condicionante é que a demanda pelos chips já é maior do que a oferta.

O relatório da GS pretende esmiuçar esses pontos ouvindo as partes para tentar responder se de fato estamos diante de uma bolha ou não. Embora seja pessimista, o pesquisador do GS Jim Covello diz que ainda vai demorar algum tempo até que isso ocorra. Para ele o ecossistema ainda está na fase das pás e picaretas trabalhando a todo vapor para construção da infraestrutura, leia-se data centers. Quem enxerga a questão pelo lado otimista espera que um dos grandes beneficiados desse avanço seja o setor público.

Continua…

Sobre o PIB do Brasil:

Os Céticos

O economista e professor do MIT Daron Acemoglu (autor do livro Porque as Nações Fracassam) é um dos pensadores que olham para o universo das IAs com relativo ceticismo. Para ele o resultado vai demorar para aparecer e talvez ocorra apenas na próxima década. Ele estima que os avanços serão limitados e menos auspiciosos do que muitos estão prevendo. Essa visão mais pessimista quanto aos avanços efetivos no curto prazo não impede que ele reconheça o potencial da tecnologia no campo das descobertas científicas, na pesquisa e no desenvolvimento de novos produtos e materiais. No entanto, segundo Daron Acemoglu o foco atual do desenvolvimento da IA está centrado na melhoria da eficiência produtiva e na redução de custos dos processos de produção já existentes e até mesmo na automação e consequente substituição da mão de obra humana. A curto prazo e considerando o caminho que está sendo trilhado num horizonte próximo o impacto da IA deve ocorrer nas atividades que exijam essencialmente trabalhos mentais, sem interação direta com humanos. Ele entende que tarefas que envolvam interação intensa entre o executor de uma tarefa e um grupo de pessoas ainda não pode ser cumprido por uma IA de forma efetiva. O professor cita como exemplos áreas que requerem interação no mundo real tais como: transportes, produção e mineração. Tais áreas requerem capacidade de adaptação, flexibilidade e acomodação de outros seres humanos dentro do mesmo ambiente de forma saudável. Na visão do professor o aumento da capacidade das GPU e a maior quantidade de dados que podem ser processados não implica automaticamente em melhorias e avanços combinado com redução de custos. De acordo com o professor as métricas para comprovação dos ganhos obtidos com introdução da IA num determinado ambiente ainda não são claras. A respeito dos dados que cada vez mais alimentam as IAs o professor questiona a sua qualidade e sua origem. Indo além ele questiona se os dados mais confiáveis estarão sempre disponíveis para serem capturados e utilizados a baixo custo. Para o professor a cognição humana e seus processos, sentimentos e conclusões são bastante complexos (obs.: cognição basicamente é a forma como cérebro humano interpreta as informações que recebe dos seus sentidos). Por mais que a linguagem LLMs tenha evoluído bastante ainda está longe de se tornar uma espécie de HAL 9000 do filme 2001 Uma Odisseia no Espaço (dando spoiler HAL é um computador com IA que é capaz de ler lábios e matar humanos que querem desligá-lo). Em outras palavras, para Acemoglu a IA não será capaz de “substituir” um ser humano num horizonte de 30 anos. Ele não acredita que um computador rodando a melhor LLM será capaz de pensar em algo, criar soluções para esse algo, testar as soluções e implementá-las ajustando todos os processos do ecossistema afetado. O professor acredita que haverá vantagens num trabalho conjunto envolvendo a interação entre humanos e IA. O humano detecta um problema e a IA ajuda a desenvolver a solução que depois poderá ser testada pelo humano. Em termos reais o professor não nega que existe um hype que está direcionando boa parte dos investimentos para o segmento das IAs. Isso é um fato e o processo de automação e consequente substituição do trabalho humano atrai investimentos. Tanto é que o professor reconhece um impacto desse movimento no PIB (americano) muito maior do que no aumento da produtividade. Todavia o professor alerta que nem todos os projetos dão certo e muitas vezes os responsáveis pela decisão acabam ficando um tanto quanto otimistas demais com os possíveis resultados que a IA trará para a empresa. Chegando na conclusão o professor alerta para possíveis riscos que podem ser trazidos pelo hype numa tecnologia que ainda não foi totalmente compreendida e sequer foi regulamentada. Em outras palavras, no limite, Daron Acemoglu sugere uma abordagem mais cautelosa e debaixo de uma regulamentação para que o processo não corra solto e coloque em risco as instituições e a própria democracia num eventual processo evolutivo sem rédeas da IA.

(Entrevista com Daron Acemoglu - Resumo das páginas 4 e 5 do relatório da GS)

Obs.: Começamos a série no dia 13/07 e hoje, dia 15/07 saiu uma reportagem sobre Daron Acemoglu no site Brazil Journal abordando o mesmo ponto de vista, com o título: IA terá impacto ‘modesto’ na produtividade; ‘hype’ preocupa, diz Acemoglu: segue o link abaixo para quem se interessar:

Outro que também não está tão entusiasmado a respeito das IAs é Jim Covello que também é pesquisador da Goldman Sachs. Ele questiona que tipo de problema está sendo resolvido ao custo de 1 trilhão de dólares. Para ele todo esse gasto está sendo direcionado para substituir tarefas que normalmente são exercidas por pessoas com baixa remuneração, onde estaria o retorno desse tipo de lógica? Ele diz que esse caminho é exatamente o oposto das transições tecnológicas anteriores nos últimos trinta anos. Jim Convello diz que a comparação entre as perspectivas da IA e os primórdios da Internet não são boas. A internet trouxe uma efetiva opção com custo menor do que as alternativas então existentes, que ela (internet) estava substituindo, e cita como exemplo o caso das lojas físicas versus lojas online, onde a vantagem das lojas online é maior, ou do UBER que se construiu basicamente dentro do mundo online e se tornou uma alternativa competitiva num segmento que era monopolizado pelo sistema de taxi. Na visão dele o desenvolvimento da IA deveria estar sendo direcionado para a solução de problemas muito mais complexos e para os quais as IAs não estão prontas. Ele também não acha que as IAs ficarão mais baratas com o decorrer do tempo. Seu argumento nesse sentido novamente remete ao exemplo do comércio eletrônico que se mostrou muito mais competitivo logo de cara. Com relação a lei ou paradigma de Moore ele diz que foi a competição que obrigou os fabricantes a reduzir custos, inovar e tornar seus produtos competitivos. Se não fosse a AMD e a Intel estivesse sozinha no mercado a história do menor, mais rápido e barato poderia não ter acontecido. Indo adiante na tese ele cita o fato da Nvidia ser a única empresa capaz de produzir as GPUs que são utilizadas atualmente. Para Jim Covello a tecnologia dominada pela Nvidia pode ser muito difícil de ser replicada impedindo o surgimento de novos concorrentes. Se o atual monopólio da Nvidia for mantido ela terá imenso poder para fixar o preço que quiser. Até mesmo no processo de manufatura existe um exemplo com o caso da empresa que produz os equipamentos para produção dos chips. A ASML – Advanced Semiconductor Materials Lithography não tem concorrentes e o preço das suas máquinas é de centenas de milhões de dólares, sem considerar que há países que sequer podem comprar por causa de questões geopolíticas. Para Jim Covello o cenário não é exatamente o mesmo e empresas como Google, Microsoft e Amazon estão correndo atrás, mas isso não dá nenhuma certeza sobre uma eventual redução de custos.
Além da questão da redução de custos e da aplicação da IA em questões muito mais complexas Jim Covello também não é tão otimista com relação ao potencial transformador da IA. Para ele será difícil que a IA algum dia alcance o nível de raciocínio cognitivo capaz de substituir os humanos em suas interações. O limite da máquina está no momento atual considerando que ele é capaz de agregar tudo que estiver ao alcance dele. Os humanos podem estudar coisas complexas, identificar e entender problemas e detalhes num nível que é difícil imaginar que uma IA seja capaz olhando apenas para tudo que já foi feito antes. Comparando a evolução das IAs e de outras inovações como GPS embutido nos smartphones Jim Covello diz que já na largada se projetava todo o potencial de uso prático da inovação. No caso das IAs isso não ocorre, não há um roteiro indicando para onde estamos indo. Até o momento, quase dois anos após a popularização das IAs generativas ainda não existe uma aplicação matadora, verdadeiramente transformadora e rentável. Para Jim Covello é compreensível que as empresas estejam entrando nessa corrida, elas não tem outra escolha a não ser participar, entre outros motivos por causa do FOMO (Fear of Missing Out ou medo de ficar de fora). Para ele ocorreu algo parecido no caso do metaverso, da realidade virtual e do blockchain. Todos são excelentes exemplos de avanços tecnológicos, mas que ainda não atingiram um nível de massificação que os torne baratos e disponíveis. Como pesquisador da GS Jim Covello não se esconde e afirma que por enquanto é possível alocar algum recurso nas empresas que estão na fase das pás e picaretas deste processo. É o caso dos fabricantes de equipamentos, especificamente dos chips, empresas ligadas a construção de redes de transmissão de energia e os hiperescaladores (uma espécie de data center bombado). Mesmo que algumas já estejam caras ainda pode haver espaço para crescerem. Para ele as ações não despencam simplesmente porque estão caras, geralmente o preço cai de forma consistente quando a empresa perde seus fundamentos. Para Jim Covello as bolhas podem demorar bastante para estourar e sendo assim, querendo investir nesse segmento o melhor caminho é escolher empresas que atuam no fornecimento de infraestrutura, como é o caso dos hiperescaladores. Se a coisa estourar algum dia, quem estiver posicionado nesse tipo de papel já terá usufruído bons resultados ao longo do tempo e se a coisa toda der certo ainda estará bem posicionado no setor (obs.: não estamos recomendando a compra, investimento ou alocação de recursos em IA). Jim Covello cita dois pontos essenciais que devem ser observados por quem estiver olhando para este segmento como investidor: 1) o mais importante deles é ficar de olho no resultado das empresas que estiverem investindo pesadamente no setor. Se a rentabilidade destas empresas se mantiverem robustos a alocação de recursos continuará ocorrendo. Ou seja, quando a rentabilidade cair é bom ficar alerta e talvez seja hora de pular fora; 2) se novos usos que sejam realmente efetivos não surgirem num prazo de 12 a 18 meses (contados a partir de junho/24) o entusiasmo dos investidores pode começar a diminuir.

Sobre a empresa ASML:

Aproveitando o tópico vamos compartilhar um video do Diolinux e o link para um artigo do Ronaldo Lemos sobre o assunto.

O video do Diolinux traça uma espécie de caminho das pedras para quem ainda está tateando no escuro sobre o tema.

O artigo do Ronaldo Lemos endereça uma questão geopolítica sobre a vontade de se restringir o acesso aos chips, essenciais para uma infraestrutura de ponta no mundo das IA’s. O nome desse pequeno detalhe em inglês é “Governable chips” ou, em tradução livre, “Chips controláveis” que seriam vendidos com uma espécie de trava para limitar seu uso a finalidade alegada pelo comprador.

:thinking: :face_with_monocle:


Print parcial retirado em 25 07 24 de: Tesla desaba 12%, Alphabet cai 4% e derrubam Nasdaq: recuperação em 2024 ameaçada?