A Tentativa de Controle da Rede Social Steem Baseada em PoS

Dentre algumas coisas que sabemos sobre o Facebook uma é que eles ganham muito dinheiro usando informações colhidas a partir dos dados coletados a partir do nosso cadastro, das nossas preferências, do nosso círculo de amizades, das nossas curtidas etc. É uma máquina de dinheiro criada em cima dessa nossa vontade de fazer parte desse mundo conectado. É claro que muita coisa “fake” também faz parte deste mundo e “fake” aqui não é no sentido de criar e disseminar informações ou notícias falsas. Digo isso no sentido de tentarmos criar um “mundo perfeito” vivendo uma vida dos sonhos sendo que a vida real é diferente ou até completamente oposta ao que retratamos nas redes. Já diziam antigamente que papel aceita tudo. Trazendo para os dias atuais as redes sociais aceitam muitas coisas. Outra coisa que muitos sabem é que estas informações que entregamos de bandeja para o Facebook não estão seguras por mais que Mark Zuckerberg diga que no fundo a culpa é nossa porque não lemos os tais direitos de uso da plataforma. Se a maioria de nós não lê contratos, bula de remédio ou manual de instruções é difícil acreditar que vamos ler os termos e condições de uso de aplicativos em geral, quem nunca procurou o botão de aceitar antes de ler os termos e condições…

Com o surgimento da tecnologia Blockchain e o crescimento da sua adoção não ia demorar para que soluções de rede social fossem criadas com base nos conceito básicos de uma rede Blockchain (descentralização, confiança & segurança, recompensa etc.). O Blockchain pode entregar neste cenário de início duas vantagens em relação ao Facebook: transparência e segurança. Se incluirmos um sistema de remuneração por contribuição acoplado a um sistema de reputação temos mais duas questões: 1) recompensa para quem interage; 2) combate coisas chatas tais como fake news, spam e anúncios indesejados. O fato de que as redes sociais ou aplicativos deste tipo (Facebook, Twitter, Whatts App, etc.) tornam seus criadores milionários além de expor seus usuários a diversos riscos não faz parte das preocupações da maioria dos seus usuários. As redes sociais baseadas em Blockchain tentam atacar este ponto se propondo a remunerar os usuários por suas interações na rede. É claro que ninguém vai ficar bilionário fazendo postagens, dando curtidas ou interagindo nestas redes.

Apenas como exemplo trago alguns detalhes de algumas redes sociais baseadas em Blockchain, mas existem muitas que já foram criadas, cito algumas delas para quem estiver interessado: empow, esteem, mediachain, rebel ai, Fluz Fluz, Civil, Binded, Vevue, Sola (beta test) e SoMee. Existem alguns projetos que também prometem entregar o pacote de descentralização, liberdade e privacidade, mas como não pesquisei todos não sei quais são baseados em Blockchain e quais rodam apenas numa rede P2P sem usar recursos de um Blockchain típico.

Steemit

Foi lançado em 24 de março de 2016. É considerado o primeiro projeto de rede social criado com tecnologia Blockchain. Como foi criado para se conectar a um Blockchain ao invés de ser um APP seu aplicativo é chamado de DAPP, ou seja, enquanto um APP faz a conexão com a nuvem um aplicativo DAPP faz conexão com um Blockchain. No caso o Blockchain é da empresa privada Steemit.inc com sede na cidade New York, nos Estados Unidos. A rede remunera usuários que interagem na rede com base em votos dados por outros usuários. A remuneração é paga com a criptomoeda STEEM. Logo após o seu lançamento a rede foi alvo de ataques hacker com perda estimada na casa de 85 mil dóla-res. Com a queda nos preços das criptomoedas no ano de 2018 a empresa passou por dificuldades perdendo muitos membros da equipe, mas a empresa e a rede social continuam ativas.
Mas nem tudo são flores, descentralização e consenso até mesmo neste mundo das redes sociais baseadas em Blockchain. Os meses de fevereiro e março deste ano (2020) foram especialmente movimentados nesta rede. Ao que parece, com a concordância do próprio criador da rede Steem (Ned Scott) o criador da plataforma TRON Justin Sun tentou tomar o controle da rede Steem com apoio das Exchanges Binance, Poloniex e Huobi que detinham tokens (direito a voto). Além disso Justin Sun teria “emprestado” dinheiro para que alguns usuários da rede se tornassem validadores na rede com poder de voto (uma espécia de “suborno” disfarçado). Essa jogada diminui o poder de voto dos representan-tes eleitos pela própria comunidade para poder dominar o consenso pela maioria dos votos com apoio das Exchanges acima citadas e de validadores “infiltrados”. Entre outros objetivos a intenção de Justin era migrar a plataforma Steem para o Blockchain da TRON através de um Hard Fork. Essa operação gerou uma gritaria nas redes sociais tanto de usuários como de desenvolvedores que tinham contribuído para o desenvolvimento de aplicativos para uso na rede. Nas palavras de John McAffe sobre esta tentativa de tomada de controle de uma rede Blockchain isso é o mesmo que tentar pegar água com uma peneira, “comunidades não podem ser compradas”. O que ocorreu com a rede Steem também foi comentado por Vitalik Buterin, um dos criadores do Ethereum, que também está caminhando para a implantação do sistema PoS - Proof of Stake na rede Ethereum, “esta tentativa pode ter sido a primeira deste tipo (com “suborno”) que poderá ocorrer com mais frequência no futuro, à medida que outras redes implementem o sistema PoS - Proof of Stake, como será o caso do Ethereum.

Site da empresa: https://steem.com
Códigos: https://github.com/steemit
Blockchain: https://steemblockexplorer.com
Site da rede social: https://steemit.com
Whitepaper: https://steem.com
Sobre a tentativa de tomada de controle:
https://bravenewcoin.com/insights/steemit-takes-control-as-exchanges-reject-a-hostile-takeover
https://cointelegraph.com/news/the-steem-takeover-and-the-coming-proof-of-stake-crisis

Vídeo institucional: https://www.youtube.com/watch?v=xZmpCAqD7hs

DLive

O foco desta plataforma descentralizada, além de ser uma comunidade virtual de vídeos é o streaming. Parece interessante para quem curte jogos, a maioria do conteúdo é de jogos como free fire, PUGB, rust, etc. Está mais para concorrente do Twitch do que para uma rede social clássica como o Facebook. Como não poderia deixar de ser grande parte da recompensa é paga para os criadores de conteúdo em vídeo. Mas usuários não são desprezados, ações como indicação de novos usuários, comentários bem avaliados e votos também são remunerados. Decisões como conteúdo que deve ser removido ou valorizado com recompensas cabem a comunidade por meio de votação. Esta plataforma nasceu usando o Blockchain da Steem e inicialmente a criptomoeda usada para recompensar os usuários era a Steem. Atualmente a plataforma opera no Lino Blockchain com um token chamado Lemon e uma criptomoeda chamada de LINO. Além disso o Blockchain tem o LINO Stake que também é uma forma de pagamento que serve especificamente para quem pretende ser um validador ou super nó do LINO Blockchain. A posse de LINO Stake dá direito a voto nas atualizações do Blockchain. A ideia dos criadores é contrapor-se ao formato adotado por outras plataformas de vídeo que sugerem conteúdo aos usuários através de algoritmos e tem um controlador que centraliza as decisões. O conhecido youtuber PewDiePie deu moral para esta rede ao se tornar usuário, mas está sem aparecer por lá a quase um ano.

Site: https://community.dlive.tv
Códigos: https://github.com/DLive?tab=overview&from=2014-12-01&to=2014-12-31
Blockchain: https://tracker.lino.network/#/
Site da rede social: https://dlive.tv
Comunidade DLive: https://community.dlive.tv
Whitepaper: https://link.lino.network/whitepaper

Video institucional: https://www.youtube.com/watch?time_continue=4&v=Sj_Z9GSHnIs&feature=emb_logo

Sapien

A rede social tokenizada (ERC-20 no Blockchain Ethereum) Sapien, criada no início de 2018. Seus valores são: democracia, privacidade, liberdade de expressão e personalização. Tem como objetivo recompensar seus usuários sempre que fizerem contribuições (criar conteúdo, fazer comentários ou votar em postagens) para a rede, além de outras finalidades, como por exemplo combater “fake news” com um sistema de reputação. Futuramente a rede pretende recompensar aqueles que se dispuserem a “assistir anúncios”. Nas palavras dos seus criadores é uma tecnologia que pretende interromper o “status quo”. As recompensas são divididas em “Sapien Rewards” e “Sapien Jackpot Rewards”. O pro-cesso de verificação de conta/endereço de usuário válido garante 100 SPN. Os SPN são necessários para que o usuário faça qualquer interação na rede, mesmo que a inclusão de um conteúdo ou um comentário não custe nada a rede vai aceitar sua contribuição somente se você tiver um saldo mínimo de 100 SPN na sua conta. O valor da recompensa depende da quantidade de usuários ativos na semana considerando-se a quantidade de SPN que cada um possui. Além disso existe uma espécie de ranking de postagens, quanto melhor for o ranking evidentemente mais recompensa será paga ao autor da contribuição. O uso do Blockchain visa garantir que os dados dos usuários sejam melhor protegidos pelo uso da criptografia. Outra característica que é comum neste tipo de rede baseada em Blockchain que o Sapien também preconiza é governança transparente e descentralizada. A intenção dos idealizadores é incluir um mercado on-line além de aceitar aplicativos desenvolvidos por terceiros. A existência da loja faz todo o sentido já que deverá aceitar pagamentos em SPN.

Sobre o Sapien: https://scet.berkeley.edu/sapien-network-rewards-you-for-using-social-media/
Roadmap: https://blog.sapien.network/new-year-new-platform-welcome-to-polaris-997c52e7d484
GitHub: https://github.com/SapienNetwork
Whitepaper: https://forum.sapien.network/t/sapien-whitepaper/106
Fórum: https://forum.sapien.network
Site da rede social: https://www.sapien.network

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=FovHjpgUV0o&feature=emb_logo